"Meu piano, pedaços de mim"

Meu velho amigo de noites intermináveis,

Quantas gerações de festas e amores,

Dê tantos romances vividos ao seu lado,

Entre uisques, conhaques e champanhes.

No prelúdio das músicas, entre fumantes

Foste lembrança, e tantas vezes saudade,

No êxtase das madrugadas mais delirantes,

Dê ti saía os mais lindos e belos acordes.

Quantas vezes ouviste meu soluçar de dor,

Quando tocava e chorava compulsivamente,

Lembrando amores perdidos ou distantes...

E o marfim de tuas teclas era a guarida,

A recolher lágrimas, e mais lágrimas perdidas.

E no delírio das noites mais sofridas...

Tocava um tango de Gardel ou bolero de Ravel,

Afogava minhas mágoas em um copo de bebida.

A meia-luz, entre risos de amores doidivanas,

Embriagado, ao teu lado, na boate adormecia,

Só acordava quando chegava um novo dia.

Meu piano, meu amigo, meu parceiro...

Envelhecemos, eu bem mais que tu...

Pois, continuas sempre firme nos acordes,

Já que os meus, se perderam com os anos,

De vêz enquanto, alguém vêm, e te afina...

Aguentas firme do natural aos sustenidos,

Com a idade não tenho mais solução...

Algumas notas já me faltam a afinação,

Desafinando vou chegando ao fim da vida,

O que resta-me é olhar-te no canto da sala,

A relembrar os amores que eu deixei,

Cada qual tem uma estória mais ardente,

Todas elas, que vivi foram sempre contigo.

Autor: Wilson Rosa da Fonseca

WILSON FONSECA
Enviado por WILSON FONSECA em 24/04/2007
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