As tabernas de Setúbal

As tabernas de Setúbal

Setúbal no passado era afamada,

Terra de gente trabalhadora!

A taberna, por tal gente frequentada,

Ao serão, ali ia jogar a sua cartada,

Sempre a alma de gente sofredora!

As tabernas, quase sempre casarões,

Que conheciam longas histórias!

No verão, comiam-se bons melões,

Nas conversas saiam uns palavrões,

Lembrança que avivava memórias!

Depois da abertura do vinho novo,

Bebedores, iam de taberna em taberna!

Apreciando esta bebida do povo,

Bebiam-no saboreando cada sorvo,

Até os magalas o bebiam na caserna!

Em toda a taberna que se presava,

Tinha jogos diversos de entreter!

Os fregueses, que à sueca jogavam,

Até campeonatos ali se disputavam,

E os frequentadores gostavam de ver!

De quando o cliente a vida permitia,

Era bem-sucedido pagava a rodada!

Toda a gente ficava muito contente,

O tinto ou branco animava a gente,

Bebiam uns copos sem pagar nada!

O verão ia chegando com calor,

Havia petiscos e caracóis saborosos!

Bem apaladados a preceito e valor,

Eram iguarias com muito sabor,

E por todo o bairro eram famosos!

Mesas eram de madeira compridas,

Uns bancos de cada lado das mesas!

Onde se desfiavam coisas da vida,

Nas longas noites todas parecidas,

Curtida por gentes das incertezas!

Conversas de segredos guardados,

Desfiavam-se contas dos rosários!

Queixumes dos mais desafortunados,

Eram queixas dos miseráveis salários,

Lembranças guardadas nos relicários!

Algumas tabernas tinham chinquilhos

Onde se disputavam campeonatos!

Outras tinham jogos matraquilhos,

Sueca, bisca de nove eram sarilhos,

Desentendimentos que eram chatos!

Eram gerações de gente pobre,

Quase sempre pouco letrada!

Mas havia gente honrada e nobre,

E o freguês pedia com voz dobre,

Hó Zé serve mais uma rodada!

O cliente que pedia ao taberneiro,

O que pedia era cliente de verdade!

Hoje sou eu que vou pagar primeiro,

Era freguês pagante e não caloteiro,

Sendo a despesa paga com lealdade!

O taberneiro era de poucas conversas,

Por todos os fregueses respeitado!

Mas tinha opiniões por vezes diversas,

Posso andar por as ruas e travessas,

Pois era essa a razão de ser respeitado!

J. Rodrigues (Galeano) 20/08/2013

Galeano
Enviado por Galeano em 25/10/2013
Código do texto: T4541949
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