IR E VOLTAR

Vou deixar-te Lisboa, vou regressar à minha terra,

Levo-te comigo no meu coração, com muita tristeza,

Não esquecerei nunca o teu encanto, a tua beleza,

Sei que vou enfrentar uma vida diferente e severa.

Diversa da que vivi contigo em idade adolescente.

Inseguro e enjoado com o balancear do carregueiro,

Vamos rumo ao Sul, reencontrar a terra que deixei

P'ra estudar em Portugal e conhecer suas gentes,

Que desbravaram mares e descobriram paragens

Além mar e que souberam colonizar, sem receio.

P'lo meu rosto deslizam lágrimas, como quilha

De barco que corta as ondas p'ra abrir caminho.

E chegar em trinta dias, sem pressas ao destino.

Perco de vista a Torre de Belém, Cascais, Bugio,

Ao longe a serra de Sintra, deixando o rio Tejo.

Cheguei enfim à minha terra, com promessas

Dum futuro promissor, minha desilusão e dor,

Depois de muito trabalho, sacrifícios e suor,

Património de vulto que construí se perdeu,

Na queimada que lavrou e em que tudo ardeu.

Atravessei novamente o Oceano rumo a norte,

Cheguei d'avião sem vintém, fui mal recebido,

Trataram-me de retornado, tão injustamente,

Que traumatizado sofri um grave acidente,

Estive no hospital internado, terrível martírio.

Longo tempo de convalescença tive de passar.

De muletas, depauperado precisei de trabalhar,

Muitos anos passados até ficar recuperado,

Muitos mais anos pra no meio me reintegrar,

Até finalmente me instalar e ser considerado.

Ruy Serrano, 18.07.2013

Ruy Serrano
Enviado por Ruy Serrano em 17/07/2013
Reeditado em 18/07/2013
Código do texto: T4391813
Classificação de conteúdo: seguro