DÁLIA – UMA RECORDAÇÃO

DÁLIA – UMA RECORDAÇÃO

Esta noite sonhei com a minha infância,

Difícil ser sonho e não pesadelos.

Difícil mesmo...

Sempre que o subconsciente revê a infância ele revê as passagens negras dela.

Revê minha infância como sendo um blues rasgado num bar sujo na beira da estrada

Desta vez meu subconsciente me deu um presente a muito perdido

Aleluia meu Deus!

Acordei com uma sensação deliciosa de saudades.

Caminho na estrada de terra que leva ao casarão da família

Ele ainda é uma única casa,

Engraçado que mesmo sem estar lá sentia no sonho o cheiro de minha avó.

O cheiro de sua maquina de costura.

Ia para a casa da família aguardando a estória em italiano

Ia para o casarão aguardando a bala da minha avó como recepção

Saudades!

No caminho de terra uma linda arvore de uva chinesa,

Frutinha seca e sem graça, que a fruta até parece pedaço de pau.

Ela estava carregada em meu sonho.

Tinha Bem-te-vi, tinha pardal de montão, tinha tudo que é pássaro...

Alias, tenho um sonho recorrente com revoada de pássaro de olhar para céu e ver o céu coberto de pássaros a voar.

No sonho estava D. Palmira e D. Rosa,

As duas velhas juntas sentadas num banco improvisado embaixo da arvore

Velhas benzedeiras que benziam de tudo;

Seja mal olhado, dor cabeça a bucho virado.

Elas já me benzeram cobreiro, que hoje eu chamo de micose.

Já me benzeram de ramo de ar, que hoje eu chamo de enxaqueca.

Já benzeram de pulso aberto e tudo que se possa imaginar...

Todos os jardins de todas as casas do caminho tinham Dálias...

Engraçado que nem lembrava o nome da flor,

Mas as benzedeiras sorriam e me deram um buque delas,

Lindas flores em forma de pompom.

Repetiram o seu nome uma dúzia de vezes,

Para dor de cabeça crônica reze para São Caio,

Ele perdeu a cabeça e ajudara a curar a sua e a do seu irmão.

Oferecerá no dia de hoje uma Dália para o Santo

Veja o dia da semana e num canto da sala coloque uma Dália ao Santo

As velhinhas sorridentes no meio das Dálias riam...

Falam errado, com sotaque caipira, e repetiam o nome da flor e o nome do Santo.

Acordei com saudades da minha infância

Engraçado que acordei chorando,

Mas não um choro triste,

Eu acordei com um choro sentido

Choro de quem derrubou o sorvete no chão e não tem dinheiro para comprar outro

Choro de fim novela

Choro de casamento

Choro de quem sabe de quem no final tudo dará certo

Nem sei se São Caio existe ou se ele perdeu a cabeça

Mas rever o caminho de terra que leva a casa grande

As grandes nogueiras do meu tio

E as minhas queridas benzedeiras

Tudo isso já me valeu a pena

Por que desde nome no poema?

Por coincidência ou não ganhei hoje uma Dália de presente.

André Zanarella 22-04-2012

André Zanarella
Enviado por André Zanarella em 05/01/2013
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