CONVERSA COM O MAR

CONVERSA COM O MAR

Sentada na areia

curvo-me sobre minha própria concha

enquanto nuvens cobrem meu rosto

e o ar magnetiza meus olhos e minha mente.

Meus pensamentos têm nuances de ilusionismo

que confundem a pouca lucidez.

Minha voz, tímida diante das ondas,

pergunta, num sussurro, onde foi parar a canção

que meu peito lançava aos quatro ventos

nas cálidas manhãs de verão, entoando versos

da mais plena afinação?

Tenho medo da resposta,

de que ela venha como um maremoto

e me impeça de sentir o balanço das ondas

afagando o pouco de fantasia que restou

daqueles antigos olhos de promessa

que um dia inundaram meu coração.

Insisto em perguntar ao mar

se nos lugares por onde andou

acaso ouviu aquelas notas no ar?

E o que ouço é meu próprio silêncio,

sinto aquele cheiro de mistério,

envolto em noites e maresias

e um sabor enigmático na garganta,

resquício daqueles beijos

até hoje emoldurados na saudade.

Sob meus pés indecisos, só as espumas

cumprem o seu ritual de ir e vir.

Basilina Pereira

Basilina Divina Pereira
Enviado por Basilina Divina Pereira em 28/08/2012
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