"Mulher de meia idade"
Mulher de meia idade
Mulher vivida, mulher sofrida
Dos eternos amores, tentações
Da vida sempre mal resolvida
Das passadas bem marcadas
Do tudo que deu contente
É sábia, curtida, ardente...
Provou de tudo na vida
Dos quitutes trivais, comuns
Aos pratos mais elaborados
De uma vida sempre bem vivida
Sorveu vinhos, tintos, picantes
Tomou porres alucinantes...
Andou nas entrelinhas
Pisou chãos de ervas daninhas
Não quer é ficar sozinha
Mascou chicletes do amor
Comeu maçãs do pecado
Fez da vida seu bombocado...
Sem falar do esconde - esconde
Das carreiras dadas pra fugir
Do que vive sempre a se fartar
Dos escurinhos debaixo dos panos
Escalando muros pra não mostrar
Agora fica calada, a gargalhar...
Mulher de saltos altos, sandálias
Perfumada, empetecada, mascarada
À procura de mais um quinhão
Que agrade e anime seu coração
Vive fazendo da vida seu refrão
Porque ficar sozinha, não...
Eva do paraíso, tentadora, endiabrada
Mulher de meia idade, na realidade
Sempre se enconde na vaidade
Teceu teias nas lembranças
Vive agora só de esperanças
Sempre feliz na eterna mocidade...
E as rugas aparecendo
Ela sempre escondendo
Os brancos dos cabelos surgindo
Ela, na faina doida, tingindo
Que mulher levada da breca!
Linda, madura, sapeca!...
Myriam Peres