Cadeira de balanço
Cadeira de balanço
No silêncio do meu anoitecer
Piscam lampejos ao escurecer
Entre as brumas dos meus pensamentos
Num ranger sereno e persistente
Balanço sonhos em minha mente
Devaneios toldam-me completamente...
E a noite me estremece, temperando
No balançar do lusco fusco da imaginação
Minha cadeira de vime estende sua mão
Vime de palha toda entrelaçada
Em palhas secas da minha emoção
Componho rimas para meu coração...
Saio da rede, em busca de aconchego
Procuro logo banhar-me no sossego
Correndo aflita balanço em seu chamego
Palhas trançadas mesclas de crianças
Das minhas tranças, cheias de esperanças...
E a cadeira range em seu tontear
Range pra poder se equilibrar
Ginga anseios em meu versejar
Meu corpo fica tonto em seu balançar
E, meus olhos entreabertos a fitar
Piscam frenéticos sem poder parar...
A palha seca geme procurando
Vida plantada sempre esperando
Beijos de lua e seu sol brilhando
Em suas raizes se fortificando
Ver suas palhas se entrelaçando...
Virei criança, vida com minhas tranças
Embolando desenhos nas lembranças
Querendo colo pra me proteger
Mareando balanços pra poder sentir
Nos cantos da noite o poder dormir...
A cadeira range e a idade passa
Sopra saudades, fica só fumaça
Nos prateados dos meus cabelos
Muitos criados nos meus devaneios
Prata dos meus cabelos, palhas de algodão
Nascem e crescem na imaginação...
A cadeira balança pra lá
Balança pra cá a gingar
Minhas rimas a cantar
Meus cabelos pratear
No balanço, balançar...
Myriam Peres