O RETORNO IMPOSSÍVEL
Venho de longe,
da perdida idade,
dos difusos anos do passado,
sob o fardo das lembranças mais remotas,
imersas num oceano de saudades.
Da longa caminhada estou cansado,
só e perdido nos desvãos do tempo,
buscando por caminhos tortuosos
uma cidade encantada,
uma fantasia que mora nos meus sonhos,
onde nasceram as minhas ilusões.
Nas horas inconstantes, corro contra o vento,
vassalo do tempo, andarilho desorientado,
buscando rastros da longa estrada percorrida,
pra retornar aos místicos lugares,
onde aprendi a contemplar o céu,
banhar-me nas chuvas, brincando nas ruas,
espadanando as águas corredeiras,
que desciam em enxurradas;
quedar-me a olhar o esplendor do pôr do sol,
sonhar à luz da lua,
o coração repleto de amores platônicos;
cavalgar sobre as nuvens
ou deixar meu espírito,
extático.
na contemplação do seu céu estrelado.
Ah, já não dá mais, não dá...
Ainda que a reencontrasse,
guiado pelos ilusórios fogos fátuos
já velha e erodida,
sem mais sombras para um repouso,
os pés doridos e com a visão já turva,
seria tarde para alcançar
a cidade encantada das minhas ilusões..
Afinal, por que essa vontade
de rever o que não mais existe?
É a saudade fustigando a esperança...
A esperança do quê? pergunta-me uma voz interior.
Ah, você não sabe?
é a nostalgia daquilo que ficou
longe demais, irresgatável,
um retorno impossível.
Natal, abril/2011