TORTUGA
PARA CUPPICINI
Eu te vi sentada debaixo de um grande carvalho
Na planície em que juntos corremos um dia
Eu sorri quanto te reconheci nas suas páginas viradas
Cavalheiro andante foragido nas naus, eu era
Eu nem sei se teus versos me falam ou se navego neles
Nessa fúria de ser o que não sou hoje, mas inda fui um dia
Agonia é saber-se pássaro e não poder voar
Mas quando leio tuas linhas vou longe no anverso dos versos
Que me carregam nas carruagens longínquas do tempo
Em que eu era cego e tu eras a luz que me vinha guiar
Fomos algo que só o passado pode revelar...
Ver de longe a poeira levantada pelos cavalos
E no alto da Torre me esperavas, sedenta
- Salvar-te-ei donzela das quimeras dos loucos!
Minha espada ceifando as cabeças dos tolos
Justiceiro que eu era, vinha de longe para conceder-te fuga
Na tortura de ser cavalheiro andante que se esconde noite e dia
Eu, corsário foragido, tu donzela de olhar distante
- Adiante! – eu gritava. E meu navio sobre as vagas tinia...
É estranho, saber que cada um ontem foi o que jaz
Osciloso mundo este em que agora estás
Sou andante, mas não sou cavalheiro e nem corsário, não mais...
E tu, perdeste de vista a Torre em que foste exilada
Tentamos nos salvar apenas da maldade dos seres que nos cercam
Com suas injúrias e suas mentiras pesadas
Nem traços das aventuras que passamos juntos
Mas lembrei do teu rosto e reconheci as palavras
As mesmas que escreveste quando o barco singrava altas vagas
Devaneios que de distante plano vêem
Se surreal é sonhar este sonho louco
Perco a vista do que fui um dia
Mas recobro a memória nos teus versos, vôo
Para longe, eu retorno, fantasia...
Nas asas dos teus versos a zuretar
O que fui nas entrelinhas da máquina do tempo, as palavras
A escrutar e revirar as páginas de tão velhas, amarelas
Que nas vagas me levam longe, a velejar
Pelos versos que escreves, donzela de olhar distante
És andante, tal qual eu, vou daqui pra ali, dali para acolá
Mas se achas que essa estória termina assim, esperes
Mais um verso teu eu lerei, no alento
De nas vagas dos versos minha nau singrar
A viagem inda vai continuar...
Desenrola o papiro de tuas mãos
E lês a sentença por minhas pilhagens feitas
Escreves novamente teus versos, vira a ampulheta
Que eu voltarei ao passado para te buscar
Enquanto do alto da Torre avistas meu barco
Eu bebo do rum e me afogo no versos que escrevestes nesta vida
Até me embriagar...
A viagem inda vai continuar...