Estrela Cadente

Eu tive um amor delicado, um desses amores de sonho, um grande amor vindo em carinho embrulhado

Foi um desses amores torrenciais, desses que a gente ama demais e não enxerga os óbvios perigos que tem

Foi um amor trazido numa estrela cadente, tinha um gosto antigo de amor decadente, um gosto amargo de apito de partida de trem

Amei este amor com volúpia, não nego. Quando eu tenho um amor, a ele sem reservas me entrego; uma entrega completa, sem nada deixar guardado

Este breve amor decadente que tive, foi um amor intenso de horas, ele não podia amar por inteiro, estava sempre numa estrela cadente a ir-se embora

A mesma estrela cadente que o trouxe em sonho embrulhado, um dia o levou prá longe de mim; dois telefonemas estranhos anunciaram o seu fim

Não tenho mágoas da estrela cadente, mesmo ela tendo levado meu amor delicado, estrelas cadentes são mágicas, são setas atiradas por um brincalhão querubim

Já os poetas, quando amam, são trágicos: vivem a atrelar seu amar delicado na cauda de errantes estrelas cadentes - a flertar com a Ilusão e a deixar a Razão do lado de fora

Não fora assim, não seriam poetas. Amariam como os demais viventes, por-se-iam a salvo de estrelas cadentes e não se entregariam incondicionalmente a um amor delicado

Que vivam os poetas e seus impossíveis amores! Amores delicados e cheio de cores; que vivam as estrelas cadentes, portadoras de amores assim, fogo-fátuo em noites escuras

Como seria insosso e estático o firmamento, se nele não houvesse o fugaz brilhar de uma estrela cadente, estrela que traz em seu bojo o cadinho contendo a doença e a cura

Eu fui nesta vida honrado por amar um amor delicado, um presente divino através de uma estrela cadente enviado. E a ti, estrela cadente, eu me prostro ajoelhado, grato por me permitires esse tão grande amor ter amado.

A um amor que vivemos só nos cabe ficar gratos por tê-lo vivido, independentemente de sua continuidade ou não. A uma vida carente de amor ainda prefiro uma vida prenhe de amores, mesmo estes amores turbulentos, oscilantes amores delicados, moradores em dúbias estrelas cadentes.

Cidade dos Sonhos, manhã de Quarta-Feira, um dia frio de começo de Abril de 2010

João Bosco

Aprendiz de Poeta
Enviado por Aprendiz de Poeta em 28/05/2010
Reeditado em 20/12/2019
Código do texto: T2285820
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