O Homem Que Fazia Tamancos

I

Com que carinho eu o via moldar a madeira, ferindo-a para dar-lhe ainda mais vida.

Um dia, cismei: um de seus tamancos experimentei. E então, não mais que de repente - algo mágico aconteceu.

A vida do alto eu vi. Algo entre cômico e trágico; “- isto é uma barafunda!” foi o que me ocorreu.

“Seo” Jofre, compreensivo, dizia-me em tom compassivo; - Meu filho veja este mundo com lentes mais coloridas.

II

- Quando algo me incomoda, ou que não posso explicar, venho prá minha oficina

Um tamanco fabricar. Pego da minha enxó, corto a madeira sem dó, com meus botões a conversar.

Coloco nos pés desta gente, tamancos que faço contente, resolvo minha equação e espero outra chegar.

Neste mundo em que vivemos, correndo de lá para cá, tudo o que nós sabemos – é a vida que nos ensina.

III

“Seo” Jofre um homem tão sábio, um artesão mais que hábil, legou-me ensinamentos vitais.

Encarar com sobriedade, mesmo quando ultrapassa a metade da nossa taça de fel.

Não há porque refugar. É bem melhor transformar o amargo da vida em mel.

IV

Ele prá oficina corria – fabricava seus tamancos; eu vou atrás da poesia – transmuto as agruras em cantos.

Quando me pego em sereno, busco um antídoto pro veneno desta vida feia demais.

Vou procurar Maricota, fazemos um bom troca-troca; levo amor de presente – recebo muito acalanto.

Da frente da casa do “seo” Jofre tem-se a visão de um riacho que passa barulhento, como a cantar para o resto do mundo as belezas de Banco Central, ao compasso das lavadeiras batendo roupas nas pedras.

Vale do Paraíba, manhã de Quinta-Feira, Dezembro de 2008

João Bosco

Aprendiz de Poeta
Enviado por Aprendiz de Poeta em 20/10/2009
Reeditado em 04/04/2010
Código do texto: T1877063
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