Eu e o Tempo.
Quando me senti como gente
Há anos e anos. Já não é tão recente,
Dividia com ele sempre imponente
O direito de ser sempre assim.
Um moleque sem compromisso,
Com uma vida cheia de viço,
Que se achava e por isso,
Nunca pensou que houvesse um fim.
Não sei qual de nós dois passava,
Mas sei que onde eu ia ele estava,
E da maneira que me olhava,
Impassivelmente assistia a minha ida.
Nessas estradas que pensei infinitas
Sobressaiam-se tantas coisas bonitas,
Coisas faladas e coisas também escritas,
Na jovialidade impetuosa que afrontava a vida.
Eu sempre o considerei bem marrento.
Vive o todo, e nunca vive o momento,
Mesmo tendo aportes de encantamento,
Fiquei na minha, contudo, mais precavido.
Intrometeu-se bastante em minha vida,
Abriu-me algumas das muitas feridas,
Nunca me enalteceu na subida,
Nem desdenhou por eu ter caido.
Hoje, como que ouvindo um conselho,
Ponho-me frente a frente ao espelho,
E vejo em mim muitas marcas de relho,
Que deixaram imensas cicatrizes reais.
Mas fui bem jovem até onde pude.
Fui nobre, educado, e até já fui rude.
Fui rio perene, ribeiro, açude.
Só que tudo passou. Não sou mais.
E o tempo? Venceu a corrida.
Fez o que quis em minha vida,
Sacaneou-me de forma atrevida,
Permanecendo enquanto eu passei.
Mas não há de ser nada não.
Depois dessa grande ilusão,
Tudo que fiz usando o meu coração,
Vai ser eterno. Isso eu sei.