MINHA PRIMEIRA PROFISSÃO
Final de semana, tudo preparado,
caixa no ombro eu saía de casa,
meu destino a mesma esquina,
onde sempre eu era esperado,
pelos fregueses já acostumados,
a verem brilharem os seus calçados.
Fazia as graxas num breve instante,
fosse preto, branco, castor ou marrom
Quando o cliente era algum visitante,
para quebrar um pouco a tensão...
Falava das coisas de minha cidade,
que eu conhecia como a palma da mão.
Quando chegava bem à noitinha,
com o dinheiro voltava pra casa,
entregava pra mãe, tudo que tínha,
que ela gastava lá na feirinha,
se trôco sobrasse era pra ir ao cinema,
que no domingo eu ia sempre a tardinha.
Sempre tive com certo orgulho,
desde os meus tempos de guri,
que os sapatos por mim engraxados,
desde o do doutor, do peão ou garí,
nunca houve quem me reclamasse...
Na primeira profissão que aprendi.
Hoje, quando encontro um engraxate,
e, ele me diz:- Vai uma graxa ai?
Vou logo, buscando a melhor posição,
enquanto minha mente volta no tempo,
vejo-me guri com a escova na mão,
abrindo brilho no sapato e na recordação.