MINHA PRIMEIRA PROFISSÃO

Final de semana, tudo preparado,

caixa no ombro eu saía de casa,

meu destino a mesma esquina,

onde sempre eu era esperado,

pelos fregueses já acostumados,

a verem brilharem os seus calçados.

Fazia as graxas num breve instante,

fosse preto, branco, castor ou marrom

Quando o cliente era algum visitante,

para quebrar um pouco a tensão...

Falava das coisas de minha cidade,

que eu conhecia como a palma da mão.

Quando chegava bem à noitinha,

com o dinheiro voltava pra casa,

entregava pra mãe, tudo que tínha,

que ela gastava lá na feirinha,

se trôco sobrasse era pra ir ao cinema,

que no domingo eu ia sempre a tardinha.

Sempre tive com certo orgulho,

desde os meus tempos de guri,

que os sapatos por mim engraxados,

desde o do doutor, do peão ou garí,

nunca houve quem me reclamasse...

Na primeira profissão que aprendi.

Hoje, quando encontro um engraxate,

e, ele me diz:- Vai uma graxa ai?

Vou logo, buscando a melhor posição,

enquanto minha mente volta no tempo,

vejo-me guri com a escova na mão,

abrindo brilho no sapato e na recordação.

WILSON FONSECA
Enviado por WILSON FONSECA em 17/05/2006
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