SE EU FOSSE CIGARRA
Que chatice de trabalho
dessa cigarra enfadonha
que canta, canta, tristonha,
sobre o palanque de um galho.
O ouvido até se enfastia
com a nota que azucrina,
mas nunca, nunca termina
o zizizi que dá azia.
Que vida mais infeliz
sob o chão escuro e frio,
por anos, anos a fio
chupando grossa raiz...
Faria bem diferente:
brotava logo do chão,
fugindo desse padrão,
com som de rock potente.
O luxo, a graça e a leveza
das minhas asas com frestas,
de todas, todas florestas,
viriam ver com certeza.