A BARATINHA
A baratinha, coitadinha,
Nasceu quase loirinha,
E com vergonha das irmãs,
Só vivia escondidinha.
Mas o tempo foi passando...
A baratinha foi crescendo...
E foi então que viu, no espelho,
As suas asinhas escurecendo!
Ela virou duas cambalhotas
E disse sorrindo: "- Que bom!
Estou igual minhas irmãzinhas;
Estou ficando marrom!"
Ficou na ponta das últimas patas,
Colocou as mãos na cintura,
Coçou as costas e percebeu
Que suas asinhas estavam duras.
Correu e falou pra sua mãe:
"- Mamãe, olha só que alegria!
Eu já sou baratinha adulta...
Acabou a minha agonia!
Posso sair pelo mundo?
Há tanto doce lá fora...
Estou com um vazio profundo...
Preciso comer, sem demora!"
Sua mãe lhe disse: "- Pode ir!
Mas cuidado com as pessoas!
Se elas te virem por ali,
Te matarão, numa boa!
Ande sempre pelos cantos,
Ainda que o meio seja belo!
Tenha, pelo sapato, espanto;
Fuja de todo chinelo!"
Foi-se embora a baratinha
E a sua preocupação acabou-se
Quando viu uma latinha
Contendo restos de doce.
Mexeu, satisfeita, as anteninhas...
Comeu... comeu... deliciou-se!
Distraída, não viu a menininha
Que dela, maldosa, aproximou-se.
No rosto da menininha, o medo
Que fez disparar seu coração!
E num passe de mágica, sem segredo,
O chinelo saltou para as suas mãos.
A menininha não sorriu,
Pois estava tomada pelo estresse...
E foi então que a baratinha ouviu
O último som de sua vida: SPLASH!!!
Alexandre Brito - 25/04/2012
(*) Imagem: Google