A FORMIGUINHA


Lá vai a formiguinha,
Pela estrada amarela
Carregando uma folhinha
Dez vezes maior que ela!

Encontra com uma cobra
Que tem cara de sapeca
E vai levando na boca,
Uma suculenta perereca.

Reza a perereca, aflita:
- Virgem Mãe, ai que eu morro,
Se ninguém ouvir meu grito
Ou vier em meu socorro!

E como ninguém reza à toa,
Mal termina a oração...
A cobra ganha asas e voa
Nas garras de um gavião!

Segue em frente a formiguinha.
Pela estrada amarela
Mantendo firme a folhinha
Dez vezes maior que ela!

E na curva do caminho,
Se assusta e quase sufoca
Ao ver um guloso pintinho
Engolir uma minhoca.

A formiguinha fecha os olhos,
Que estão cheios d'água!
E ao abri-los, vê o pintinho
Ser levado por uma águia.

Mais adiante, vê uma joaninha
Comendo uma folha... fazendo pirueta... 
Tem as asas vermelhinhas,
Com muitas bolinhas pretas.

A formiguinha fica encantada,
Mas... com o coração em sobressalto
Vê a pobre joaninha grudada
Na língua asquerosa de um sapo.

Triste, segue a formiguinha.
Pela estrada amarela
Sentindo o peso da folhinha
Dez vezes maior que ela!

- Que vida é essa, meu Deus?
- Pergunta a formiguinha, reflexiva. -
Tem tanta "gente" morrendo,
Enquanto eu permaneço viva!

E foi nesse exato momento
Em que ela estava a pensar,
Que seu corpo se viu sugado
Pela língua de um tamanduá.

Perdendo a força que tinha
E envolta em atroz sofrimento
Soltou a enorme folhinha
Que bailou - livre - ao vento!

Voou... voou a folhinha...
Caiu na estrada amarela
À espera de outra formiguinha
Dez vezes menor que ela!


Alexandre Brito - 19/04/2012
(*) Imagem: Google






Alexandre Brito
Enviado por Alexandre Brito em 19/04/2012
Reeditado em 19/04/2012
Código do texto: T3621623
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