O LAGO MAL ASSOMBRADO
O LAGO MAL ASSOMBRADO
Lago sereno onde mora a carpa dourada,
Também mora insetos e a coruja alada.
Na sombra do chorão tem uma pedra,
Onde o limbo por ali devagar medra.
Ao lado da pedra mora a perereca,
Que deita na pedra para a sua soneca,
Sonha que um dia Deus lhe fará gente.
Vai morar na casa de tijolo o que tinha em mente,
Vestir vestido colorido de chita,
Saber tudo que é tipo de escrita,
Tocar uma bela viola,
No dedo usar uma dourada argola,
Deixar de morar perto do lago,
E ter na voz um serviço bem pago.
Iria esquecer o senhor sapo
E comer com talher e guardanapo.
Acordou na sombra do seu chorão,
Já era noite, mas ainda tinha clarão.
Era sexta-feira noite de lua cheia.
Uma fada ali brilhava como uma candeia.
Bela fada brilhante de asas vermelhas,
De lindos lábios e belas sobrancelhas.
Veio conversar com triste perereca,
Veio voando e rindo muito sapeca.
Ouviu e fez um trato com a magrela;
Uma noite como humana, mas tento cautela
Ao nascer do dia acenda uma vela,
Faça a escolha e de sua vida tenha a tutela.
Assim foi feito o encantamento
Linda rapariga aparecia naquele momento
Vestida não de chita, mas de Cetim
Estava ali em pé bela sobre o capim.
A rapariga perereca correu pela mata,
Sorrindo com o mais belo som de cascata.
Caçava ali o belo moço dono da fazenda.
Onde ficava tal lago que da perereca era a vivenda.
A moça perereca achou o moço o mais belo,
Para ele deu o seu sorriso mais singelo.
Conversou de como ela achava belo o lugar,
Que esta perdida longe de seu lar.
Falou do lago onde morava a carpa dourada,
Que entre as pedras tinha uma natural enseada.
Chama-o para apreciar as belezas do pequeno mundo,
Estava tão encantada que o levou em um segundo.
Uma libélula elétrica passava pelo junco;
Uma barata d’água com o casco adunco;
Uma família de girino parecendo carvão;
Uma linda carpa colorida sem seguir padrão.
Tudo era lindo no recanto da perereca.
O rapaz só tinha uma idéia bem sapeca.
Por ele ser o dono da fazenda queria e podia,
Ela por ser bela e ingênua com certeza deixaria.
Ele sem cerimônia alguma
Pegou a guria leve como pluma
Joga-a na relva ali verde brilhante,
Ele babava e tinha respiração ofegante,
Rasga a sua roupa de cetim,
Mas antes que chegasse ao fim,
Um esverdeado e feio sapo cururu,
Que morava por ali ao lado do sabitu
Deu-lhe uma bela esguichada de xixi,
Na cara bateu e o moço pulou como saci
E todos os bichos ali se revoltaram
O rapaz riquinho todos eles atacaram.
A perereca decepcionada desistiu de ser gente,
Sem vela para acender sua mente ficou incoerente.
O rapaz chegou contando vantagem,
Achando que bela moça tinha seguido viagem,
Falou que namorou muito a bela na lagoa,
Mas que ficara para trás indo embora à toa.
Todos foram até lá, pois o moço estava assustado.
Chegando ali todo mundo ficou apavorado,
Encontraram a roupa de cetim rasgada,
A sandália de camurça no mato jogada
E ao balançar no fim da corda a bela guria,
Morta e na cara expressão de agonia.
Foi tirá-la da ponta da talinga,
Mas o tempo fechou como mandinga.
Ataque de todo que tipo de mosquito,
Aves atacando-os de modo gratuito,
Ataque nocivo de sapos cururus,
Até bicada de mansos jaburus.
Eles fugiram para voltar mais tarde
Ninguém voltou, pois todo mundo era covarde
E toda aquela parte da mata fechada
Ficou conhecida como mal assombrada
Falam que na noite de lua cheia
As pererecas gritam tanto que até acordam a aldeia
Lá pelas tantas da madrugada
Quando os pássaros voam em revoada
Vêem uma bela moça nua e virente
Que tem jeito de rã e também de gente
E assim acabo a poesia infantil
Espero ter contado de maneira juvenil.
André Zanarella 21-05-2011