O SOLTADOR DE PIPAS
Criança bem pobre nascida na roça,
vida sofrida pelas condições de misérias,
quando a seca dizimava as colheitas,
e a comida rala quase sumia no prato.
Mãe generosa que alimentava 6 bocas,
todas famintas por nutrientes ausentes,
e o feijão com arroz no fundo da panela,
repartia com todos e ela fingia comer.
Caboclo que carpia a terra ressequida,
pai generoso que tinha o coração partido,
pois não conseguia dar sustento aos filhos,
e sofria calado com lágrimas caindo no rosto.
Mesmo assim eram felizes na casa de taipa,
onde o amor reinava em carinhos e abraços,
pois se amavam em plenitudes serenas,
cantando felizes quando a noite chegava.
A viola caipira dava o tom da música gostosa,
que o casal cantava e os filhos se enterneciam,
e nessa hora esqueciam todas as tristezas,
até a fome que se acalmava e parecia dormir.
Tinham no entanto a liberdade dos campos,
onde corriam em desembestadas carreiras,
apostando corridas para medirem suas forças,
e as pernas fortes supriam todas as deficiências.
Juquinha atrevido que alimentava seus sonhos,
fazia pipas mesmo que fossem tão rústicas,
papel de seda toda amassada e com remendos,
e a linha de carretel fazia a pipa se erguer.
Ganhava alturas indo passear entre as nuvens,
e o menino sapéca se imaginava voando também,
como um pássaro de asas fortes pairando no ar,
onde sonhava ver as matas e flores do campo.
Felicidade não se compra com excesso de farturas,
muitas vezes são fatores para sérias desavenças,
e Juquinha mesmo não tendo nada para brincar,
como soltador de pipas tinha todas as alegrias.
13-03-2010