O acendedor de estrelas

O menino deu asas a sua imaginação

Voou e voou e voou... Mundo a fora

Passou por lugares desconhecidos, esquisitos

Lugares antes nunca vistos, a olhos nus...

Bateu palmas em várias portas

Atirou pedras em tantas janelas

Bebeu água límpida em chafariz e fonte

Pulou muros, correu atrás de sonhos...

Andou de monociclo na linha imaginária

Limite do tempo e do espaço sideral

E fez muitos e novos amigos, quem dera

Meninos de verdade como ele, pudera?

Meninos inventores de verdades, é sério,

Como a sua verdade, imagina, será quimera?

Brincou de pirilampo, vaga-lume, lumeeira...

E de lampiro nas nuvens, acendeu as estrelas, aquelas,

Apagadas e esquecidas pelo tempo...

Acendeu a estrela saudade

Acendeu a estrela caridade

Acendeu a estrela bondade

Todas estendidas em varal de diamantes...

Acendeu a estrela...

E de tanto acender, acendeu em si uma estrela adormecida

A estrela mais querida

Da pretensão de ser eterna criança:

De brincar de algodão doce com as nuvens

De brincar de caramelo com o sol

De brincar de bolhas de sabão com o ar

De pular amarelinha ao vento

De pegar carona no rabo do cometa

De conhecer novos planetas

De multiplicar os grãos de areia

Pelas gotas de água dos oceanos

E no meio de tantos sonhos

O menino viajou... Viajou novamente

Dando asas a sua imaginação...

Fez pouso emergente na atmosfera

Ficou uma fera, irritado com tantos maus tratos

E de coração partido, ficou a pensar no perigo

De gases mortos, poluentes, ar poluído

Pelas mãos dos homens, deprimido

Tratou logo de inventar uma nova realidade:

Coloriu os rios de novo azul

Coloriu as matas de novo verde

Coloriu o ar de novo branco

Coloriu o olhar do homem de uma nova cor

Coloriu os pássaros de um alegre voar

Coloriu o sorriso de estampado

Coloriu os pardos, os negros, os brancos

Com as mesmas cores dos direitos e das igualdades.

Coloriu a terra de uma nova fragrância

Coloriu a estância e num novo instante

Descobriu que ainda é possível

Acreditar no homem.

E voltando um pouco no tempo

Lembrou que no acender das estrelas, esqueceu...

De acender a estrela humanidade, tão gasta tão apagada

E tratou logo de acender “multicoloridamente”

A estrela da humanidade com as cores da saudade

Para que assim o homem possa perceber

A ausência do outro e assim saber

Que não pode viver sozinho:

Coloriu então...

Com as cores da caridade,

Para que assim o homem possa entender

Que não deve acumular, querer só pra si,

É preciso partilhar o que tem em abundância.

Coloriu então...

Com as cores da bondade

Para que assim o homem possa compreender

Que é no bem que a vida se multiplica

E ao invés de cor única, termos cores de infinidades:

A cor da cara da nova civilidade , a cor da afinação,

De um mundo mais irmão, justo, de igualdades.

E nessa viagem toda

O menino resolveu parar para descansar

E enquanto descansava, sonhou que acordava

E começou a colorir em papéis brancos e lápis de várias cores

O sonho que tinha sonhado enquanto imaginava,

Dando asas a sua imaginação...

O menino de invenção que pode virar realidade.