A Procissão em Portugal

Redobram os sinos em tardes vãs,

Antes do sol se pôr, aqueles olhos de avelã,

De uma velhinha qualquer, de preto e véu,

Clamando em público para o Céu,

Orações sentidas pelo cortejo afora,

Os pés cansados, àquela hora,

Pela procissão ladeira abaixo

Alguns pingos da vela adormecem na mão,

Antes de saltar pelas pedras, ao chão,

Cabelos brancos fugindo do véu, pelo vento,

Ao relento, o terço dedilhado,

E tão delicado das Ave Marias, Pai Nosso,

Acabar dizendo, como ninguém – Amém.

Aquele mar que fez chegar ao Brasil,

A cruz ao monte, fincando a esperança,

Uma coragem sem temperança,

De que pelas caravelas, pela crença,

Mereciam alcançar.

O cortejo vai passar pelo alambrado perto do mar,

O vento que vem de lá, ameaçando as batinas,

Balançando as saias também compridas das meninas,

Neta, sobrinha, bisneta,

A família inteira em memória ao Senhor.

Senhor Deus, abençoai as velhinhas,

Naquele ritual sem igual,

De uma procissão em Portugal.