A dor do mundo
A dor do mundo se abateu sobre mim.
Tenho a obrigação de anunciar: Fim!
Porém, sinto vontade de gritar: Ainda não!
A dor do mundo se abateu sobre mim.
Dor de despedida, de partida, de recomeço.
Porém, meus olhos teimam em vê-lo como eterno,
forte e poderoso, imune às profecias e às devastações.
A dor do mundo se abateu sobre mim.
Agora fico, como uma criança,
a admirar o colorido das flores no campo,
o passeio das borboletas no ar,
as alvas nuvens que rolam no alto
e as formiguinhas
que teimam em cortar folhas no meu quintal.
Sim, a dor do mundo se abateu sobre mim.
Tenho vontade de ficar e beijar a mulher amada.
Tenho vontade de pintar telas e escrever poemas belos.
Tenho vontade de viajar, brincar e correr como nunca,
fingindo não ver nem saber nada sobre o fim.
Porém, ainda que eu tape meus ouvidos,
o som das trombetas ecoarão pelo espaço.
Ainda que eu ame com toda minha força,
de nada valerá para aqueles
que fizeram do ódio e da indiferença
seu pão de cada dia.
Ainda que eu teime em dizer: Salva Senhor!
Muitos, zombando, dirão: Não há Senhor!
E a linha desse horizonte não existirá
mais que o tempo necessário
pra que a humanidade veja,
com olhos de espanto e decepção,
o grande do mal que foi capaz de fazer
com suas frágeis e limitadas mãos de barro.