O DIABO E O PECADOR
Agora, você já não é mais aquele. Tornou-se arrogante, soberbo e chato. Já não é mais meu amigo, não anda mais comigo. Lembro-me que nossa amizade era forte, muito forte. Éramos inseparáveis. Até que você decidiu me abandonar de vez, não sei por qual motivo; mas você se afastou de mim pra sempre. Lembro-me de nossas conversas, quando eu ia com você às festas, e lá, você se embriagava até cair no chão. Mas eu sempre te acompanhava, eu sempre estava contigo. Recordo ainda, aquela vez que fui com você ao prostíbulo, onde você, numa única noite, gastou todo o seu salário com as prostitutas. Ali, naquele ambiente de promiscuidade, ficou o dinheiro que era do leite dos seus filhos. Ali, ficou o seu suor. Você desperdiçou um mês inteiro, de trabalho, naquela casa; onde as mulheres vendem seus corpos pra quem quiser. Todas ali, eram minhas amigas de longa data, mas você não sabia! Você nem desconfiava que eu as conhecia há muitos anos. Mas eu sei da vida de cada uma delas. Eu sei porque elas estão lá, oferecendo seus corpos por dinheiro. Cada uma delas tem uma história triste, que eu conheço muito bem.
Agora, eu estou surpreso em saber que você largou os seus vícios, já não fuma, não bebe, nem usa drogas!? agora é um homem “politicamente correto”. Será que eu acertei? Você quis pegar outro caminho, não é isso? Cansou de viver aquelas “aventuras”? cansou da “vida louca”? Vai mesmo, levar adiante esse novo estilo de vida, chato, careta? O que me incomoda de fato, é saber que a nossa amizade acabou! Poxa, eu gostava de você, gostava do seu jeito ‘rebelde’, ‘grosseiro’, ‘violento’, ‘bad boy’. Eu gostava quando você enganava a sua esposa e seus filhos, e levava aquela amante para o motel; escondido de tudo e de todos. Eu gostava quando você usava o ‘crack’, nos becos, nas calçadas, nas esquinas. Eu gostava quando você transava com homossexuais também. Afinal de contas, você disse pra mim, uma vez, que queria “variar” um pouco. E eu concordei com você, e te apresentei aquele gay, naquela boate badalada. Não vá me dizer que hoje você está arrependido. Você gostava da vida noturna, cara. Vamos lá, volte a ser como antes!
Quando você perdeu o emprego, eu confesso que fiquei feliz, não que eu quisesse te ver na pior, jamais. É que, desempregado, você deixava eu te aconselhar melhor, então eu te conduzia aos bares para aliviar a tensão, o stress, o nervoso... Afinal de contas, você precisava mesmo descansar. Ainda me lembro quando você comprou aquele revólver para tentar “resolver seus problemas”. Lembro-me que você começou a escrever uma carta de despedida para deixar para a sua família, pois estava decidido a se matar, com um tiro na cabeça. Você estava querendo acabar com tudo, porém não teve coragem de apertar o gatilho; e ouvindo o choro de seu filho, recém-nascido, desistiu de cometer o suicídio. Mas tudo bem, eu compreendo que você estava vivendo uma fase difícil naqueles dias. Ainda posso me lembrar, perfeitamente, daquela tarde em que você saiu de casa, decidido nunca mais voltar. Você havia brigado com sua esposa, que se queixava de sua frieza para com ela e seus filhos. Ela reclamava de sua embriaguez, que havia já se tornado uma rotina. Sem falar nas revistas pornográficas, nos vídeos eróticos, nas drogas e nas seringas; que ela encontrou debaixo da almofada do sofá!
Mas, meu caro amigo, a verdade é que a nossa amizade se desfez, sem mais nem menos. E isso me incomoda muito. Quantas baladas nós curtimos juntos! Quantas mulheres você levou para a cama! Quantas brigas nos bares, nos restaurantes, nas casas noturnas! Ah, acabo de me lembrar de mais um fato importante: o dia em que você subiu num viaduto e jurou que ia saltar lá de cima, para morrer esmagado pelos carros que, lá embaixo, passavam em alta velocidade. Eu vi, quando se aproximou de você uma velha senhora, de cabelos brancos, já de idade bastante avançada. Quando você ia pular para a morte, ela estragou tudo ao chamar você para te entregar um folheto, no qual estava escrito: “JESUS TE AMA”. E assim, mais uma vez, você desistiu do suicídio e desceu as escadas daquele viaduto, em lágrimas, aos prantos; chorando igual a uma criança! Que bobagem! Um homem chorão! Você deixou para trás tudo o que era bom, já não é mais aquele homem que um dia conheci um dia, cheio de “filosofias” e “aventuras” na cabeça.
Agora, você não é mais aquele que discute por qualquer motivo. Pra mim, você está morto! Mas você diz que, vivendo assim, é feliz, se sente bem e muito mais vivo. Que pena! Você era o meu melhor amigo, sabia? Como você se tornou um idiota? Trocou a minha amizade pela companhia daqueles que andam com a Bíblia na mão, falando sobre o amor de Jesus Cristo, o Reino dos Céus, a salvação das almas perdidas, o apocalipse e um monte de outras besteiras? Ah! Realmente estou impressionado com você que, dizia ser forte, esperto, inteligente... Mas, na verdade, o que eu vejo em você é um tremendo de um covarde! Você não tem coragem de ser quem você realmente é. É isso que eu sinto em você. Você se tornou um fracassado, manipulado por uma religião e rodeado de fanáticos! Por isso, agora se esconde atrás da Bíblia Sagrada, para tentar esquecer os seus erros, os seus crimes, os seus delitos. Não é mesmo? Diga a verdade?
Você diz que está vivendo “uma nova fase”, e que está feliz, acordando logo cedo pela manhã, agradecendo a Jesus Cristo, por mais um dia de vida. Já não chega em casa mais embriagado, sujo, drogado. Agora você canta louvores a Deus, dentro de sua casa; antes tão atribulada, confusa e desorganizada. Você hoje é próspero, é batizado, e diz que sua família vai morar no Céu, junto com os seus irmãos da Igreja. Mas, pra mim, VOCÊ É UM COVARDE! Você me deixou e tenho ódio de você. Sinto ódio de você. Tenho raiva de você. Eu quero mesmo é matar você. Desgraçado! Infeliz! Eu te odeio! Você é um traidor. TRAIDOR!
Eu odeio Jesus, por que ele tirou você de mim, para sempre. Eu odeio você! Odeio a sua família! Você tem mil pecados, você era um alcoólatra, era um drogado; andava sempre comigo. Você passava a noite com prostitutas, em orgias, na libertinagem, nos prazeres da carne; ouvindo músicas profanas, nas bebedeiras, nas casas de jogos. Até me lembro que você chegou a buscar “ajuda espiritual”, nos centros de Bruxaria, para que os seus caminhos fossem “abertos” e o seu sofrimento chegasse ao fim. Mas, agora você se esqueceu de tudo o que fez e quer ser “santo”? Você é mesmo um desgraçado! Eu te odeio e não vou te deixar em paz. As suas orações, a Deus, me causam nojo, eu sinto ódio de você! As suas orações me fazem ter mais raiva de você. A cada dia, eu me revolto mais. A cada dia, eu tenho mais desprezo por você, que se tornou um traidor, um covarde.
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“Portanto, submetam-se a Deus. Resistam ao Diabo, e ele fugirá de vocês.” – Tiago 4:7
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© Junior Omni - 2009