𝖭ã𝗈 𝗉𝗈𝗌𝗌𝗈 𝖼𝗋𝖾𝗋
Vivo na correria
Vivo na contramão
Estou de luto nesse mundo
Com o meu coração
Não posso crer
Na minha religião
Hormônios à flor da pele
Emoção!
Comoção!
Ingratidão!
Ingrata estou com a vida
Revoltada como ninguém
Sem poder rezar e dizer amém
Consequência da saudade
Ela ia comigo pro Terreiro
Assistia a gira sentada
Lá era muito bem amada
Presa ao passado, estou
Num luto como ninguém
Não posso mais ter crença
A saudade bate imensa
De uma senhorinha
Que virou estrela no paraíso
Minha tia-avozinha
Ela quer me ver sorrindo
Encontro-me revoltada
Com o que me fizeram passar
Crise aqui e acolá
Pinel!
Me deixaram amarrada
Só por umas horas
Eu não pude fazer nada
Dói em mim essa história
Fiquei traumatizada
Me enchem de remédios
Preciso de terapia
Médico!
Porque eu não posso crer
Na religião que eu quero
É um grande desespero
E uma saudade imensa
De quem me acompanhava
Nos dias de reza, ela estava
Pronta para ir para a gira
Acompanhada da sobrinha
Isso me entristece
Sei que ela não pode voltar
Mas a dor de quem perdeu
Uma tia que não está no breu
É a dura realidade
Ela era minha segunda mãe
Eu não posso mais crer
Porque ela se foi
Era minha companhia
De todo o dia a dia
Quem poderá me socorrer?
Neste Mundo cão
Onde eu me sinto louca
Vivenciei vários traumas
Mas, não estou à toa
Escrevo a vocês
Estes versos insanos
Com a minha insensatez
Não quero ter nenhum dano
Só quero voltar a crer
Na minha adorável Umbanda
Feita para todas as bandas
O índio gritou kaô kaô
O escravo se assentou
Preto-Velho em mim notou
Eu precisava de desobsessão
Ou foi um Exú
Exú não é Diabo
Quem disse isso está enganado
Alexandre Cumino é quem sabe
Ainda tenho muito que aprender
Minha fé não está nada bem
Queria poder voltar a viver
Como eu era antes
Não sei se tenho privilégio
Não sei se tenho chance
Uma agonia invade meu corpo
40 graus
Está um calor que não suporto
E isso incomoda minha tristeza
O luto que ainda tenho
Por ter perdido, me fez descrer
Na irmandade do ser
Ser humano!
Tenho medo até da escuridão
Quando vou libertar o coração?
Só sei que não posso crer
Neste mundo que me corroeu
Levou minha tia e venceu
Oh Divino!
Eu tento, mas não consigo
Mais crer que existe
Um dia tão lindo
Para se viver nesse mundo
Caio em prantos e me afogo
Queria que fosse logo
A minha vitória
As coisas não são assim
Eu ando muito ansiosa
Não posso crer
Na religião que eu quero
Eu espero um dia poder
Voltar a ser quem eu era
Ando fumando muito
E comendo besteiras
Ando correndo no tempo
Nessa brincadeira
Uma poeta que deseja
Lançar o primeiro livro
Isso me deixa com asneiras
Pensando besteira
Não penso em mais nada
Deito nas tardes geladas
De um duro coração
Por fora está quente
Eu estou com muita tensão
Eu só queria poder voltar a crer
O Divino existe pra me socorrer.
Karol Pisaro - Quinta-Feira - 26/08/2021 às 09h03min.