O assovio do Kaá
O assovio do Kaá
Eis que chega o feriado
Dia do "habitante do mato".
E atendendo ao chamado
Dessa entidade eu trato
E desse mundo encantado
Em poema faço o relato
Também chamado Caipora
É o Grande Rei da Floresta
Nenhum caçador o ignora
E a obedecê-lo se presta
Por vezes até lhe implora
Se alguma sanidade resta
Faz com ele seu tratado
Acordo de mútuo respeito
Em cerimônia consagrado
Da fé do homem, à despeito
Se com a virtude praticado
Gera o equilíbrio perfeito.
Pois as florestas precisam
Dos ciclos vitais protegidos
Nos rituais que realizam
E em cada etapa divididos
Uma dança ancestral balizam
Os seres nela envolvidos.
Em troca ele ao homem dá
De tudo que se renova.
Da fauna a flora o que há
Em virtude uma vida nova.
E servindo ao irmão abá
Tudo lhe dispõe à prova.
No porco sempre montado
Em punho segura a vara
E quando se vê desafiado
A sua ira logo escancara
Doravante ao condenado
A sua justa guerra declara
É o Guardião da bela Yacy
A Deusa Mãe Natureza.
Que é auxiliada por Guaracy
Na sua majestosa realeza.
De Yaracyara é o doce Kamby
Que garante a sua beleza
Ao faminto Amanacy consola
Combate o desgaste humano.
Yacy é da vida a melhor escola.
Contra o progresso do engano.
Ao vivente ela não dá esmola
Só instrumentaliza seu plano.
Mas, se a mente revela o dolo
De quem desrespeita à Rudá.
A luz de Jacy já engana o tolo
Quando assovia o Rei do Kaá.
Pra estes não haverá consolo.
Se já manchou seu mangará.
Mas o bem tem seu desarrolo
Quando há o perdão de Pürá.
Guaracy – O Sol
Jacy – A Lua
Abá: homem - gente - pessoa - ser humano - índio.
Yacy- Mãe Natureza
Aracy: a mãe do dia
Amanacy: Mãe da chuva.
Yacyara- mãe do luar
Yaracyara – Mãe do lugar onde fica a tribo
Kamby: leite - líquido do seio.
Rudá: deus do amor, para o qual as índias cantavam uma oração ao anoitecer
Kaá: mato.
Mangará- coração
Pürá- Deus