UMA ESCADA PRÓ CÉU

No dia em que eu nasci

Numa bela manhã de primavera

O sol alegre e sorridente

Dava as boas vindas

A uma linda menina

A quem chamaram d' Hera

Os anjos rasgaram o céu

E cantaram salmos e aleluias

Pairando sobre o berço

Uma fada apareceu

Vestida de azul

Desmesurei os olhos de espanto

E ela me sossegou entretanto

Não tenhas medo

Sou eu que estou aqui

A fada Sensata

Vou olhar sempre por ti

E te ajudar na tua terrena etapa

Auguro-te uma vida longa

Plena de escolhos e muita afronta

Vieste a este mundo

Lavar a alma, expurgar os pecados

Com que houveras partido

Sempre o teu caminho iluminarei

Cabe-te a ti o desbravamento.

Não terás poderes ou riquezas de lei

Mas bom pensamento

Todo o pecúlio te será dado á nascença

Ouro, diamante, neurónios e beleza

O ouro fica guardado no coração

Na alma os diamantes

Os neurónios na mente

E a beleza em todo o ser, como dantes

Ao longo da tua vida é evidente

Usarás o teu tesouro, como te aprouver

Quanto mais o repartires maior ficará

E eis uma questão pertinente

É por causa dos teus bens

Onde o teu EU brilhará

Que terás uma vida sofrida

Acalmando só nos finalmente

E usufruindo então,da felicidade merecida

Não percebi nada o que a fada falou

Mas fiquei muito sorridente

Passei por muitas provações

Sofri dores e maus tratos

Raivas ,ódios e difamações

Mentiras e traições

Que fui calando

Amordaçadas em trapos.

Saltei vales, valinhos e valados

Tantos foram os meus trabalhos

Verguei nas não caí

Apoiei-me nas minhas orações

Só Deus sabe o que sofri

Tudo por causa dos ciúmes

A minha vida foi conturbada

Fiz alegria dos azedumes

Em momentos de aflição

Clamei pela fada Sensata

Que sempre me deu a mão

Sem nunca me pedir nada

E o seu olhar e o seu sorriso

Eram a minha consolação

Pró meu almejado alívio

Em muitos momentos

Me senti desfalecer

Tantas vezes ,me apeteceu morrer

Mas a força, que sempre me guiou

Foi a mesma ,que sempre me salvou

Agora apego-me á vida

Como um náufrago

Á sua tábua de salvação

Vi morrer os filhos da Nação

Á míngua de caldo e de pão

É no peito uma dor tão forte

Que chamamos sem cessar

A própria morte

Mas ela não vem

É cheia de mistério e matizes

E o tempo, se faz seu aliado

Cuida das feridas com cuidado

Mas ficam as cicatrizes

Cada cicatriz é um degrau

Na escada do merecimento etéreo

Meu Deus Pai

Eu tenho o corpo de cicatrizes coberto

E na alma as dentadas dos leões

Pai quantos faltam?

Quantos escalões

Para chegar ao céu?

Maria Dulce Leitao Reis

22/04/14

Maria Dulce Leitão Reis
Enviado por Maria Dulce Leitão Reis em 20/04/2021
Código do texto: T7236892
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