A CRUZ
Eu estava completamente absorta,
alheada do mundo que me circundava.
Hirta como uma estátua
Nem sequer pensava,
como se o meu cérebro
fosse uma folha de papel branco
suspensa no nada.
Inesperadamente
algo me forçou a levantar a cabeça
e olhar o céu,
mas com tal firmeza e leveza,
que desta vez, não me senti violentada.
No céu,
um após outro iam surgindo sinais
que eu não percebia de todo.
O primeiro a surgir foi uma cruz,
depois uma estrela
e por fim um coração vermelho brilhante.
Fiquei meio atordoada
e esfreguei os olhos na incerteza do que via.
Quando de novo prestei atenção,
a cruz tinha á sua volta um grosso barbante.
A estrela faíscava raios de luz,
e de cada ponta, pingava água cristalina.
O coração, estava cheio de rosas lindas.
Num ápice entendi tudo,
mas levei algum tempo a aceitar o significado,
que na verdade era óbvio.
Há sempre um pouco de dificuldade
em aceitar o óbvio,
porque a dúvida faz questão
de desempenhar o seu papel.
Desconfio sempre do que é fácil,
talvez porque nada me foi facilitado.
Consegui a pulso tudo o que tenho
e orgulho-me da riqueza
que constitue o meu espólio interior.
Pois bem,
vamos lá então decifrar os desenhos no céu.
A cruz significa o pesado fardo
que tive que carregar
e a corda atava-me a esse mesmo fardo,
para que não pudesse escapar.
A estrela faiscando luz
e pingando água cristalina
significa a alegria, o brilho e a frescura
que inundava o meu coração,
para que as rosas frescas
continuassem a libertar a sua ternura
e a perfumar a minha dor.
A dor, não me tirou a alegria de viver,
não apagou o sorriso da minha boca,
nem a faculdade de partilhar com os outros
o que tenho de sobra; amor.
Depois da interpretação feita,
sorri e agradeci a Deus
meu pai, meu Senhor e meu guia
omnipotente, omnipresente e omnisciente!
©Maria Dulce Leitao Reis
Copyright 11/04/21