DIBAMBA
( acompanhado de marimba, malunga, coro e dança)
Dibamba! meu génio que de improviso surge ao de cima
Manifestando-se em possessão
Oh Senhora dos curandeiros e das ervas divinais —
Com o latejo do pulso da minha fonte direita
Eu Lhe saúdo!
Pois cada fôlego que trago em mim, devo-lho a Si!
Salve! Guardiã renomada!
O pássaro songe e a ventada entoam cânticos alusivos
Enquanto os celebrantes dançam aos pulos
Com a vida imersa nas chuvas que nem fantasmas
Eu danço com eles entrançado de fibras de mbala
Feitas em quatro nós:
A frente, atrás, à direita e ao revés dos ventos
Voltados para o leste
Ademais, Nzumba se empina sob a mesma possessão
Inspirando a mais profunda veneração em sinergia
Com a ramagem d’ árvore que reveste a noite
Dibamba! eu Lhe idolatro perante os vivos, os mortos
E esse espírito dos vales que ainda aguarda encarnação
Na esperança dum ciclo saudável e digno de ser
Em prova disso, eis-me aqui também em transe
A céu aberto, gemendo entre rogos
Junto ao pangolim e a Onça que para Si é consagrada
Ao amanhecer, a vida da serpente lendária de malenda
Lhe será ofertada nessa vasilha de argila ruiva
Pausada no santuário quase o rio que nasce da serra —
Com as palmas unidas faço um traço no solo preto
Em penitência
Ante o sacrário embalsamado com mubafu ao lume
Para que me reveles novas ervas e raízes medicantes
Das Suas sarças distantes situadas num espaço
Do tempo que busca trazer a boa fortuna, oh Dibamba!
Dibamba: deusa do bem; medianeiro entre o ente visível
E invisível; a fortuna.
Nzumba: o planeta Marte.
Malenda: rio fabuloso, abundante em serpentes e crocodilos.
Mubafu: resina empregue como perfumante e também nas doenças.
Escrito em Kimbundu.
Tradução portuguesa do Autor.