Mulher grande
Existe uma região agreste em mim
judiada pela cultura que me cerca
seca,
porque fizeram sulcos em meu ser
e escoaram sem dó
as águas de minha selvageria.
Ainda assim, me lanço
dia após dia
em busca da matilha pertencente,
querendo apagar o borrão de atividades
em que me pintaram
sonhando ainda ser multilíngue
nas coisas do coração
farejando essências mais íntimas.
E quando a mulher grande sobressai
á domada
sinto-me tocar o rosto das deusas,
quase ser uma!
É o tempo em que me permito.
Por mim e por todas,
e danço!
Pelas que não puderam
para que outras possam
e gozo!
pelas que não se permitiram
para que outras sintam
e sonho!
pelas que se arrastaram sem descanso
para que outras acordem seus ideais
e rezo
pelas que foram caladas
para que outras professem suas crenças
e acordo meus sóis internos
pelas que receberam um quarto escuro
à sua selvageria
para que outras se atirem ao bosque aberto
e afago minha essência
e acolho meus medos
e acendo meus fogos
e abraso minhas dores.
Fertilizo-me em criatividade.
Tudo quanto escrevo
é coisa brotada no arfar da corrida
entre a fuga e a ferocidades.
Inspirado e emanado por Clarissa Pinkola Estés em Mulheres que correm com os lobos - Mitos e histórias do arquétipo da mulher selvagem.