Entrada do sítio formada por eucalíptos dos dois lados.
Eu Disse a Verdade Pai...
Fazem vinte e dois anos que essas palavras estão guardadas dentro do meu peito,nunca foram ditas e provavelmente jamais serão repetidas...
Eu tinha mais ou menos seis anos, ainda não ia nem a escola e morávamos num sítio ao qual temos até hoje. Nossa casa era muito humilde e meu avô morava conosco. Meu irmão tinha pouco mais de três anos e meu avô era e é um homem muito simples porém muito espiritualizado.Todo dia antes de dormir ele me ensinava uma oração para afastar os espíritos que por desconhecimento da sua condição pudessem vir a me fazer mal ou me perturbar de alguma maneira. Eu não entendia o porque daquilo, mas ele dizia que aquela oração me acompanharia e me protegeria em toda a minha evolução aqui na Terra.
Numa noite meus pais queriam visitar um vizinho que havia adoecido, levaram a mim e ao meu irmão, meu avô preferiu ficar em casa,minha mãe levou uma vela para iluminar a estrada muito escura e com uma encruzilhada diante desses eucalíptos.
Feita a visita, já na despedida todos ouviram uma algazarra vinda da encruzilhada onde obrigatoriamente tínhamos que passar para chegarmos em casa. Meu irmão dormia inocente nos braços da minha mãe, e meu pai me pôs de cavalinho nas costas dele, enquanto tentava manter uma vela acesa nas mãos. Eles pensavam que podia ser alguma bagunça de jovens arroaçeiros ou coisa parecida. A medida que andavam a balburdia aumentava, vozes pastosas e incompreensíveis se misturavam, risos ecoavam escandalosos junto a gemidos de dor, zombaria mas não havia ninguém, absolutamente ninguém.
Lembro-me que minha mãe chamou por Deus, a lamparina não se mantinha acessa e olha que o ar estava parado, meu pai tentava acelerar o passo mais na escuridão e em estrada de chão era difícil. Pediu que eu fechasse os olhos que logo estaríamos em casa, senti bufadas pelo corpo e no rosto como se fosse farejada por bichos furiosos, sentia mãos tocando e tentando puxar o meu cabelo mais eu passava a mãozinha e não tocava em nada, quando fiz menção em olhar para trás meu pai me impediu aos gritos e começou a rezar o Pai Nosso em voz alta.
Quando chegamos em casa meu avô nos esperava na porta, havia ouvido a balburdia que parecia vir atrás da gente, minha mãe tremia e chamava por Nossa Senhora. Fechou-se a casa, ela correu e pôs meu irmão no berço e verificou a tramela das janelas. Ela e meu pai rodearam o berço rezando em voz baixa e nossa casa parecia ser rodeada por um emaranhado de vozes e gritos que eu nunca mais esqueci. Meu avô apagou a lamparina e eu começei a chorar muito assustada e chamando vô sem parar.
Ele me pegou no colo, enquanto meus pais só pediam pra eu ficar quietinha, pedir isso para uma criança de pouco mais de cinco anos é se abster da missão de me orientar na condução dos caminhos desse plano, mas meu vô pediu que eu não chorasse e que junto com ele repetisse baixinho aquelas palavrinhas que a gente dizia toda noite antes de dormir.
Choraminguei um pouco mais a medida que ele ia fazendo aquela prece eu fui repetindo junto, foram tantas as vezes que repetimos que a balburdia foi se acalmando até que eu exausta adormeci.
No outro dia meu avô chamou meus pais num canto, e severamente perguntou a eles se havia acontecido alguma coisa de diferente no dia anterior.
Com imensa tristeza ele viu meu pai, seu filho que ele tanto ensinou a caridade, a bondade e a humildade abaixar a cabeça e dizer:
Ontém a Quel sumiu durante a tarde no meio do cafezal, quando voltou estava toda suja e então perguntei onde ela estava aquele tempo todo. Ela respondeu que estava no carreador brincando com as outras crianças, mas aqui pelas redondezas não existem outras crianças.
Na hora não pensei duas vezes, deixei o Evangelho em cima da mesa da varanda e dei a maior surra nela...
Eu Disse a Verdade Pai...
Fazem vinte e dois anos que essas palavras estão guardadas dentro do meu peito,nunca foram ditas e provavelmente jamais serão repetidas...
Eu tinha mais ou menos seis anos, ainda não ia nem a escola e morávamos num sítio ao qual temos até hoje. Nossa casa era muito humilde e meu avô morava conosco. Meu irmão tinha pouco mais de três anos e meu avô era e é um homem muito simples porém muito espiritualizado.Todo dia antes de dormir ele me ensinava uma oração para afastar os espíritos que por desconhecimento da sua condição pudessem vir a me fazer mal ou me perturbar de alguma maneira. Eu não entendia o porque daquilo, mas ele dizia que aquela oração me acompanharia e me protegeria em toda a minha evolução aqui na Terra.
Numa noite meus pais queriam visitar um vizinho que havia adoecido, levaram a mim e ao meu irmão, meu avô preferiu ficar em casa,minha mãe levou uma vela para iluminar a estrada muito escura e com uma encruzilhada diante desses eucalíptos.
Feita a visita, já na despedida todos ouviram uma algazarra vinda da encruzilhada onde obrigatoriamente tínhamos que passar para chegarmos em casa. Meu irmão dormia inocente nos braços da minha mãe, e meu pai me pôs de cavalinho nas costas dele, enquanto tentava manter uma vela acesa nas mãos. Eles pensavam que podia ser alguma bagunça de jovens arroaçeiros ou coisa parecida. A medida que andavam a balburdia aumentava, vozes pastosas e incompreensíveis se misturavam, risos ecoavam escandalosos junto a gemidos de dor, zombaria mas não havia ninguém, absolutamente ninguém.
Lembro-me que minha mãe chamou por Deus, a lamparina não se mantinha acessa e olha que o ar estava parado, meu pai tentava acelerar o passo mais na escuridão e em estrada de chão era difícil. Pediu que eu fechasse os olhos que logo estaríamos em casa, senti bufadas pelo corpo e no rosto como se fosse farejada por bichos furiosos, sentia mãos tocando e tentando puxar o meu cabelo mais eu passava a mãozinha e não tocava em nada, quando fiz menção em olhar para trás meu pai me impediu aos gritos e começou a rezar o Pai Nosso em voz alta.
Quando chegamos em casa meu avô nos esperava na porta, havia ouvido a balburdia que parecia vir atrás da gente, minha mãe tremia e chamava por Nossa Senhora. Fechou-se a casa, ela correu e pôs meu irmão no berço e verificou a tramela das janelas. Ela e meu pai rodearam o berço rezando em voz baixa e nossa casa parecia ser rodeada por um emaranhado de vozes e gritos que eu nunca mais esqueci. Meu avô apagou a lamparina e eu começei a chorar muito assustada e chamando vô sem parar.
Ele me pegou no colo, enquanto meus pais só pediam pra eu ficar quietinha, pedir isso para uma criança de pouco mais de cinco anos é se abster da missão de me orientar na condução dos caminhos desse plano, mas meu vô pediu que eu não chorasse e que junto com ele repetisse baixinho aquelas palavrinhas que a gente dizia toda noite antes de dormir.
Choraminguei um pouco mais a medida que ele ia fazendo aquela prece eu fui repetindo junto, foram tantas as vezes que repetimos que a balburdia foi se acalmando até que eu exausta adormeci.
No outro dia meu avô chamou meus pais num canto, e severamente perguntou a eles se havia acontecido alguma coisa de diferente no dia anterior.
Com imensa tristeza ele viu meu pai, seu filho que ele tanto ensinou a caridade, a bondade e a humildade abaixar a cabeça e dizer:
Ontém a Quel sumiu durante a tarde no meio do cafezal, quando voltou estava toda suja e então perguntei onde ela estava aquele tempo todo. Ela respondeu que estava no carreador brincando com as outras crianças, mas aqui pelas redondezas não existem outras crianças.
Na hora não pensei duas vezes, deixei o Evangelho em cima da mesa da varanda e dei a maior surra nela...