FÊNIX DE ARGILA
Sou Fênix de argila
Nascida e renascida
Do barro primordial.
Moldada e modelada
Pelas mais intensas vivências:
Aventuras e desventuras
Amores e desamores.
Amassada e amolgada
Pelas mãos de gente amiga,
Mãos de gente cruel
Fui esculpida a cinzel.
Massa que trás na mistura
A têmpera do meu pai
Força que o mundo me deu.
Acrescida a mistura
A ternura dos carinhos
Das mãos de minha mãe.
Leveza e bom humor
Brabeza e amizade
Cravados na convivência
Com meus irmão e irmã,
Primos e primas...
Gentileza e confiança
Esculpidos em meu corpo
Expressos nos gestos suaves
Da minha dança cotidiana.
E ainda sem ser airada
Pesada levava um peito
De pedra de dor ardida.
Por causa da vida bandida
Que foi endurecendo por dentro.
Mal necessário... foi me deixar escavar!
Pois sem antes ser “ocada"
O fogo não suportaria...
Passar pelo fogo dá consistência à escultura!
Meus medos e desejos
Em arestas fui sendo talhada.
Aparas de amores...
Excesso de paixão.
Remodelada no tempo
Compaixão e perdão
Esculpida pela amizade.
Renascida e cingida
Fênix cinzelada,
Pelo fogo da queima
Por anos me calcinando...
Magoas e dores queimando.
Desmanchada e remodelada
Tantas vezes sem fim...
E ainda continuo assim!
Tornei-me consciente
De que esse é o processo,
E como eu passo por ele
Eu posso escolher:
Toda vez que eu for devastada
Mais intensa eu voltarei!
Eu perdi o medo da morte
Tornei-me escultura forte.
Arte sagrada e única,
Feita e refeita
Pelo mestre dos mestres
Pelas sagradas mãos de Deus!