Cândidos Silêncios
À janela o vento me chama falando.
O que dirá ele ansioso balançando,
incessante, à noite caland’a estrela,
qu’em complô nas nuvens se vela?
Oh que doce tristeza e que ternura
no olhar calado da noite que nasce!
e onde suas âncoras escuras soterra
a quem perdido na sombra fenece?
Muito embora nenhum’estrel’etérea
atravesse a imensidão negra sidéria,
e desça enfim me enchendo de graça,
um clarão bendito deita a sua trança!
O viandante vento forasteiro agitador
espalha no céu de sons e raios riscado
um frio distante, mudo, fundo da dor
a quem peregrina espaços ondeando!
Mago vácuo fecundo de celestes raios
de sonhos virgens fugidios imigrantes.
Cândidos Silêncios! Sinceros desmaios
de quem vê os Mistérios tão presentes!
O vento separa o silêncio do silêncio,
com deliciosa e dulcíssima Nostalgia;
nada diz e mudamente alívios irradia,
anunciand’estranhos anjos o novo dia!
Cá porém incônscios se protegem dele
e do zênite de brilhos d’eteral carícia,
aplainando na noite escura a sua pele,
constelada imensidade da doce Harmonia!
Santos-SP-29/07/2006