Acordei serena...

Acordei serena...

Acordei serena

Repousada, meio lenta.

Na madrugada cinzenta

Estranho sentimento...

O cheiro exalado

Em minhas narinas

Era de solo orvalhado

Camuflava qual vacina.

Ergui-me do leito

Lentamente, serenada.

Sob a grama orvalhada

Espiei meus pés descalços

Pisando sem sentir

Minhas pernas magras

Quase se curvaram...

Meus braços caíram

Fui ao chão

Minha cabeça latejava

Rolando sobre a terra

Era uma enorme cratera!

Acordei serena

Livre do sonho ou pesadelo

Queria um pouco de aconchego

Para aquecer meu sossego!

Acordei refeita

Das dores noturnas

Das sombras nefastas

Das tristezas e das angústias.

Mirei-me no espelho

E vi singular perfil

No céu azul de anil

Minha alma voava alto.

No solo apenas os últimos laços,

Restos mortais, ossos, crânio.

Acordei livre em meu túmulo

Violado por mãos abençoadas.

Soubessem os que ficam

Retidos entre o tempo e o espaço

Esquifes, flores, mormaço?

Só nos dão mais cansaço.

É preciso coragem para abrir espaço

E despir a roupagem, o cansaço.

Acordar serenamente

Na madrugada fria e ilusória da mente.