Um prego no pulso

corpo nu de vida, doce

carne da palavra, água

suja de suor, corte

na superfície do sonho, medo

da porta entreaberta, mágoas

dilacerantes do peito reprimido

qual a verdadeira face da vida?

Poetas demais já esmiuçaram esta pergunta

e poetas demais já morreram por ela.

Serei mais um?

Quantos eu serei depois de encarar a lacuna da minha existência?

Seria eu um grande buraco negro dentro do céu de minha boca?

Ou um mero exemplo da fragilidade globalizada em que nos tornamos depois de termos deixado de sermos nós mesmos para sermos o outro?

quantas palavras ainda direi?

"Meu Deus, Tuas palavras benditas me sufocam

no momento em que apenas preciso de um tapa,

e Suas palavras benditas, benditas demais, me amparam, me confortam,

e só depois vejo que foram elas o meu alicerce e,

mesmo assim, preciso de um tapa

na cara

para me humilhar..."

"Os humilhados serão exaltados"

Chega....chega... vácuo...

Depois desse corte na superfície de meu sonho

posso ver que a porta entreaberta está assim porque eu a deixei assim

e mais uma vez, dentre todas as vezes,

o meu corpo se despe de toda a delicadeza humana

para ser mais um podre humano, nu de pudores e sentimentos

para reprimir os mais recalcados desejos de amor,

desejos de vida ou, quem sabe,

de mais uma noite de sonho

de mais um dia de chance

...

Perdi a minha chance.

...

Acordo. Corpo rijo. Testa molhada. Boca seca.

Mão espalmada. Um prego no pulso

e toda a culpa do mundo em meu coração,

todas as lágrimas aos meus pés.

... e o sol surge.

Valdson Tolentino Filho
Enviado por Valdson Tolentino Filho em 31/03/2008
Reeditado em 31/03/2008
Código do texto: T924992