Requiem IV "A Escuridão"
A escuridão
A escuridão apaga meus sentidos
Leva o mundo ao meu redor
Impõe-me a mera sobrevida
Deixa meus pensamentos aflitos
Inundarem-se em espinhos e dor
Sufocando a alma até por si esquecida
A escuridão deforma a realidade
Leva ao limite a fadiga do tormento
Ceifa sonhos que a deleitam satisfeita
Na ânsia do sono que a ela vem sedento
E quando, enfim, cai no esquecimento
Conforma-se em recolher sua parca colheita
A escuridão que me sangra lentamente
Verte em fios o viver desse invólucro insano
Mero abrigo da assombração que arrasta
E cada gota a escorrer demente
Pinga lágrimas depostas no piano
Que amarga as notas da morte que abraça
A escuridão que encobre os dias
Traz sem piedade a morte inevitável
Chove penumbra sobre a alma vazia
Injeta o fel em cada pingo de ácido
Corroe a habitante da lápide fria
Extingue as cinzas do fogo esquálido
A escuridão que me fez insana
Que tortura, mata, e também sangra
Levou-me ao fundo de mim nos braços
Ensinou-me a ler a verdade dos compassos
Incrustados nos passos sempre em quebra
Da fermata eterna que acompanha
A escuridão que a noite amarga é secreta
Só se mostra aos portadores da lente certa:
A comoção da lágrima que escorre
O vácuo deixado pela morte que espia
O desespero do luto tenebroso a envolve
E vazio que a escuridão a cria