Requiem III "O Luto"
O Luto
O luto que chora um coração
É a mão do sofrer feito forja
Agrilhoando-o em prisão
Tecida de espinhos sedentos do sangue
Que sem piedade o aloja
O luto que derrama minha alma
Molda o barro da insanidade
Olaria noturna que rege meu ser
Dando forma à minha humanidade
Ferindo a fogo meu viver
O luto que soluça minha mente
Vulto de um delírio alucinado
Maltrata, queima e vira serpente
Envenena e mata sonhos
Enrola-se pelo insondado
O luto que invade meu corpo
Faz-me pagar o preço da sanidade
Negando-me inteiramente a fantasia
Priva-me até da oportunidade
De vislumbrar a melancolia
O luto que vence a minha realidade
Toma posse do pouco que sou
Vai e volta à vontade
Perde-me no limbo da escuridão
Que em si mesma me trancou
O luto que sobre mim se pôs
Infesta cada poro do que sou
Destila meu sangue no anoitecer
E nem mesmo um fio de mim lutou
A fim de libertar meu ser