precipício

uma gota por vez

tudo fica para trás

as mãos que tremem

não mais rogam por misericórdia

nada mais sobrou

além da humilhação e crueldade

talvez isso seja o justo

pois rios de sangue

deveriam fluir

como pagamento

por minha displicência com

aqueles que me amaram

o deslumbre com o ego

precedeu apenas

a morte da vontade

a sombra do pânico

e o sussurro do desespero

acariciam minha face e

clamam meu nome

mordem minhas entranhas

sem cessar

com o sorriso do prazer

no rosto

sua maldade tão grande

retira bruscamente de minha mão

até mesmo a

ausência

do abraço da suave

e piedosa

escuridão

nada existe além da dor

pago minha dívida com pedaços

de mim

que nunca serão recolhidos

pago me arrastando

pago sob o peso

dos pés daqueles que me odeiam

daqueles que imaginam me amar

daqueles que desconheço

daqueles que desconhecem

daqueles que fazem com que eu odeie

com o mais entranhado desgosto

tudo aquilo que chamam de

existência

no precipício caminho vacilante

esmorecendo

pendendo para o eterno negrume

que em seu fim habita

comigo

daqui

nada levarei

senão

tristeza, desalento e ressentimento

procurei e esperei por uma resposta

recebi um escarro e uma adaga

este escorre enquanto a outra me faz

sangrar

a ausência da dor um desejo

distante

esquecido

infantil

que aqui fique por fim

cravado em linhas desajeitadas

e desfortunadas

nada do que procuramos

existe em lugar algum

tudo pelo qual podemos torcer

é uma mera miragem

criada por nosso próprio desespero

de todos nossos mais sinceros

e estúpidos sonhos