"NOVA TOADA de LUA NOVA"

O sol ainda não chegou na praia

de Caiobá, no litoral do Paraná...

mas a lua, a chuva e o meu sono

foram embora, deixando-me esse

frio cinzento como lembrança do

finado e desavisado inverno...

Caiobá, PR; 12 JAN 08, 03:50h

"Há umas horas na noite minha

que o tempo pára, sem dizer nada

Guardam segredos da madrugada

as folhas mudas da arvorezinha

Que impera pura como rainha

e reina sozinha onde está fincada

Na beira extrema duma sacada

onde flamulava quando vento tinha

(e se desfolhada - era ventoinha)

O momento estático visto da altura

a um mar de angústias me conduzia

De Guaratuba na ponta da bahia

ancorado o barco de minha tristura

Sob a umidade da névoa escura

mirando atento com esforço eu via

E o baú pesado que antes eu trazia

agora é revisto a mim em procura

(e se debatia - feito alma impura)

Nesse vagalhão de tanta tormenta

com desesperança a lua então partiu

Eram quase onze sei que ninguém viu

sua despedida duma noite cinzenta

O mar prenunciava batalha cruenta

e se revolvia como que em cio

No balé fugia a vista do navio

que seguia ao Porto onde se acorrenta

(e se despediu - em vaga violenta)

A lua partida se foi novamente

e sem seus encantos não enxergo o mar

Nem mesmo a areia posso vislumbrar

tudo agora passa muito vagamente

Numa miopia de todo descrente

que a melancolia me foi despertar

De que final de mês ela vai voltar

dia vinte e dois - após a crescente

(e se ela voltar - vou estar contente).

Ness’ínterim vou cerrar meu palco

fechando as cortinas da noite sem fim

Se a paciência é mãe da'esperança

hei de hibernar em cada despedida

E nesse Recanto de Letras e sonhos

guardar do peito o que restou em mim

Até que me abra a lua seu sorriso

mais bem cheio do que levava na partida

Eu sei que vou viver a mesma desventura

que já sentida pelo grão-maestro Jobim:

Eu sei que vou viver: “na espera de viver

ao lado Seu, por toda minha vida”... enfim."

(Releitura, insone e déformée, de meu

texto "LUA eternamente CHEIA", aqui

publicado em 10/FEV/2007, com esta

mesma visão-escura do mar-azul...).

Lobo da Madrugada
Enviado por Lobo da Madrugada em 12/01/2008
Reeditado em 12/01/2008
Código do texto: T813559
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