memória

em meus sonhos

sou feliz

observo junto ao meu amor

o movimento do mundo

o passar dos dias

os momentos importantes

em meus sonhos

sou um bom homem

em meus sonhos

os cabelos do meu amor

roçam suavemente

em meu rosto

enquanto deitados

sentimos a parada do tempo

na entrada dos raios de sol

pela cortina entreaberta

e a poeira por eles iluminados

dançando lentamente

ao sabor do vento

em meus sonhos

vários foram meus amores

castanhos, loiros, ruivos

pessoas que por seu impacto

se tornam reais em minha tristeza

de sua inexistência

em meus sonhos

mora o passado

onde uma vez existiu

o que hoje

assombra e embeleza

meus sonhos

recusei abraços

recusei carícias

recusei a felicidade

os fantasmas de meus erros

são persistentes e invencíveis

não me deixam livre de seus

dedos

ásperos e frios

e infelizmente

meus sonhos

não permanecem o suficiente

para que estes fantasmas

sejam enterrados

hoje permaneço

em companhia

dos arautos de minha insanidade

sinto aos poucos

a congruência me deixar

meus pensamentos

se desencadearem

concluo com assombro

mas talvez sem medo

de que a esperança

não existe mais

estas palavras aqui deixadas

marcando apenas

um momento de transição

não aspiro coerência

meus pecados são grandes demais

curvam-me à doença

e aos pés da sociedade que jurei

enfrentar

porém por ela derrotado

sinto muito

peço desculpas

àqueles a quem rebaixei

a sonhos

não aspiro

perdão

aceito a punição

não sem lágrimas

não sem dor

não sem desespero

não sem desamparo

mas não aspiro

o que um dia me

disseram

que eu alcançaria

aspiro o escuro

aspiro a ausência

aspiro a saudade

aspiro o silêncio

aspiro o momento

onde os sonhos

morrerão

e deixarão para trás

a memória de uma vida

miserável

descartável

e digna apenas

de esquecimento