EU...E A MINHA BONECA
Ary Bueno [ O Príncipe dos poemas e do amor ]
Tu pequena boneca, já pelo tempo desbotada
Hoje se encontra esquecida, no canto da sala
Como se nunca tivesses existida, pobre coitada
Amiga que hoje, com a minha alma se acasala
Pois eu também, hoje, nesta cadeira de roda
Me tornei esquecida, só, triste e abandonada
Vivendo de lembranças, pois esta vida é "fóda"
Ninguém quer saber, desta, hoje, velha coitada
Filhos, netos, hoje cresceram, e por ai voaram
Minhas caduquices, a eles sei que assustaram
Pois eu, que os tratei, com carinho e meiguice
Me esqueci de avisa-los que um dia viria a velhice
Meu corpo hoje cansado, os olhos pouco enxergam
Me tornei "criança", com minhas atitudes tão louca
Sem saber, afastei, os que minhas lembranças carregam
E hoje não posso siquer deles, ver o riso na boca
Ah!...minha boneca esquecida, só você pode me escutar
Neste canto escuro aonde estas, junto com esta solidão
Só você pode ver, as lágrimas em meu velho rosto rolar
E só tu, pode ver como dói, no meu peito tanta ingratidão
Mas, boneca amiga, não os maldigo não, por meu exílio
Pois ainda posso ter sua companhia, velha e triste boneca
Nesta nossa sala pequena, e neste nosso tão grande asilo
Que abriga esta enorme solidão, e esta lembrança sapeca
Sou alguém que um dia nasceu, cresceu e envelheceu
Distribuiu, carinho, abrigou a tantos, e deu tanto calor
Alegrou, os filhos, os netos, foi feliz, com o que Deus deu
E agora, sozinha, só espera, que um dia...alguém lhe traga amor........