Envelhecido e indignado
O silêncio dói em mim
Eu não tenho um aviso
Ou um sinal de que aqui
Deixarei de sentir-me sozinho
Para que pensar?
Se recordar me faz sentir
Um abandonado lugar
Onde deixei o potencial sumir
Eu posso lamentar da criação
De dores, amigos, amores e abandono
Mas sou terreno abandonado
E eu desertaria a mim mesmo se tivesse como
Eu cansei de sentir sem controle
A impotência e a vergonha
Me assolam com o tempo arruinado
Lembranças de outros momentos
Alimentam a minha fantasia
Mas não quero ser conformismo
Não há uma regra que me obrigue
A ser uma estrutura a desabar
E se espalhar como um edifício abandonado
Perigoso para si e para os outros
Derrubado por ser obsoleto
Eu ainda quero ser algo
Eu ainda quero que a vergonha se apague
Mas não posso me olhar nos olhos
Eu sinto a cobrança do olhar no espelho
"Não era isto que você queria, você sabe"
Eu deixei que uma curva incorreta causasse acidente
Eu deixei que um amor mal-amado guiasse meu âmago
Tantos anos, pessoas, lamentos, lapsos, vergonha
Eu me tornei apenas monumento a ser derrubado
Mas quero me mover, quero ser, quero viver
Eu imploro por vida verdadeira a cada delírio de morte
Suplico por dignidade, direito de agência e força
Mas eu desperto para dormir
E durmo para sonhar
Pois eu sei que meu dia é apenas uma guerra
A se repetir e batalhar esperando perder para o destino
Eu talvez tenha entendido tudo errado
Eu busquei aceitação e redenção
Falando com serpentes como com humanos
Me deixaram com ossos quebrados por contração,
Gravemente ferido
Já fui devorado, já iniciou-se a digestão
Luto para manter-me acordado enquanto até estou corroído
Músculos e suco gástrico me puxando para baixo
Perdendo a consciência e aceitando meu destino
Eu tentei te defender
Eu tentei acreditar que você iria entender
O flagelo que carrego e não considerar
Evidência de que poderia me devorar, vida, corpo e sonhos