TRISTE COTIDIANO
Acordo, o quarto ainda escuro,
um filete de luz entra pela janela,
ilumina uma teia, já há muito esquecida,
num triste "balé", a poeira entra por ela...
Penso se o mundo é o mesmo lá fora,
uma angústia me toma pelo medo de ser,
preciso levantar, enfrentar a vida,
me bastava dela, um pouco entender...
Me aborrece pensar nessa fome maldita,
levando tanta gente para o túmulo frio,
crianças inocentes clamando por pão,
coração apertado num contínuo arrepio...
Se foi a alegria, em meio a tanto querer,
nada alcançou, só souberam sofrer,
chorar pelo quê, se nada tinham,
desejando a morte, a morte não vinha...
Se cobrir de tristeza num "colchão" de dor,
nessas noites frias, sem notícia de amor,
há tantas mãos por esse mundo afora,
mas, só me dão adeus, chegou minha hora...
São tantos esquecidos, caídos no chão,
sob o frio olhar dos que o chamam "irmão",
nas latas de lixo por toda a cidade,
transborda em rejeito, a tal caridade.