Amor Materno
Eu cheguei aos dez anos
Sonhos e planos
Mas eu simplesmente perdi
Você era mais forte do que eu
Sua vontade subjugou a minha
Várias e várias vezes
Minha única liberdade
Era a falsa esperança do amanhã
Aos doze, sonhava em morrer até os dezesseis
Queria não compartilhar com você
Do ar melancólico da vida adulta
Mas chegou meu décimo sexto aniversário
E o sonho de me tornar livre
Como um solo em uma escala menor
Mas soando caoticamente alegre
"Você vai ter sua guitarra,
Com a promessa de nunca montar uma banda.
Não quero você com estes jovens profanos,
Drogados, blasfemando contra o Senhor"
A música da minha juventude faleceu
Como um fade-out para o silêncio
Não que eu tivesse um pingo de fé
O livro sagrado e o templo
Eram grilhões que me libertei com a maioridade
"Você vai me abandonar? Não ligo que ganhou uma bolsa
Tantas faculdades por aqui e vai simplesmente
Esquecer tudo que eu fiz por você?"
Foi a frase mais confusa que eu ouvi de você
Era de se esperar criar filhos para o mundo,
E me parabenizar pelo feito de ter recebido a bolsa de estudos
A tristeza me completava a cada decisão que largava
Eu sei que não queria um ninho vazio
Por isto podou minha capacidade de acreditar
Sou somente a versão triste e sombria
Do eu não traumatizado por seus medos
Que existiria e te daria orgulho
O culpado fui eu
Meu presente é uma piada sem graça
Viciado e compulsivo busco fuga de quem me tornei
Invejo a juventude e desprezo a longevidade
Não quero ser só mais um fracasso em meio a tantos potenciais
Não quero tentar recomeçar se for para falhar novamente
Projetei no amor romântico uma cura
Mas não há amor para decadentes
Sua insegurança fez com que eu nunca compreendesse
O que é ser querido e sempre fugisse da rejeição
Ainda assim, acreditar num amor puro, não traumático
Fez-me levantar para além das ruínas
Talvez acreditar ter valor seja apenas o que necessito
Para arrancar a dentadas os grilhões do seu fantasma
Mas por hora sou assombrado por você e meus pecados
Eu sou assombrado pelas minhas falhas e retalhos
De momentos que me deixaram com a incógnita "e se?"
Você destruiu meus fundamentos, mas me levantarei
Para escarnecer da religião que te fez assim
Para escarnecer da incompetência de jovens em seus vinte anos
Que se sentiram capazes de pôr uma vida no mundo só para destruí-la
Eu sempre amarei você, e serei grato por cuidar
Em meus momentos de queda
Mas não espere que eu vá um dia para voltar tão cedo.