SEM CONVERSA
Não tenho mais forças para perdão,
nem esperanças que palavras bastem,
não confundo minha tristeza com ilusão,
não persigo mais o mesmo milagre.
Mereço exatamente tudo que acontece,
eu fiz, eu magoei, eu pequei,
mas algo de ti no meu peito permanece
e me perece do que nunca serei.
Me encho de falsa alegria terrestre
que desmorona ao teu olhar de flecha,
me escondo de tua presença celeste
que me acha alheia do que me cerca.
À distância, supõe que a lágrima verte,
de perto, me verifica a ferida aberta
e eu confiro que não existo na terra.
Morri, cada pedaço de vida em mim,
desnutrida, pálida e faminta, seca,
nada mais que árvore esquelética
estéril, inane, patética!
Eu não me lembro de me sentir bem,
escorre sangue frio de minha testa,
perto dos outros me sinto ninguém,
pouca coisa ainda me interessa.
Talvez escrever poemas sem métrica,
ainda gosto de pensar que me lês,
gosto do barulho dos dedos nas teclas,
que esse objeto é o meu piano
e a palavra é minha música reversa,
sobretudo, gosto de você que amo,
ao ponto irreversível de uma peta:
“Olha ela que nunca mais quer te ver,
que fizeste dos dez anos, poeta?!
Que mais tu queres? Ela está certa!
Se com o inferno tu sempre a encontra,
tem mais razão o diabo que te ferra.
Não tens mais forças para perdão,
tuas chamas devoram toda floresta,
não me dirija o lampejo da rouquidão
que teu amor só silêncio empesta,
não é saudável, não aprende a lição,
não frui leveza, não tem conversa!”