Atlas
Atlas solitário
O mundo é meu
O carrego
em meus ombros
Marcados e curvos
Cabeça ereta por mais que pese
Desistência é luxo
Não posso largar
Esse peso enorme
Não posso soltar
Essa frágil carga
Não posso largar
Tudo outra vez
Atlas solitário
Fadado ao trabalho
Condenado
Preso em jugo eterno
Cada vez mais distante
Paira, etéreo
Ao que rodeia tua trilha
Não posso soltar
Pés cansados
Não posso largar
Pernas formigando
Não posso soltar
O sonho do futuro
Atlas solitário
Percorre ruas a esmo
Buscando onde possa
Enfim, repousar
Luzes brancas
Ofuscadas
Nada mais enxerga
Colorido
Arco-íris
Ao fundo vislumbra
E segue seu rumo
Desnorteado
Sem poder soltar
O que tanto lhe pesa
Sem poder largar
O que tanto almeja
Sem poder soltar
O peso que lhe afunda
Levando-o
Ao ponto onde tal peso
Em asas
Irá transmutar-se
E fará do Atlas
Ícaro.