Visão de mim
Vejo-me:
Uma sombra que espreita por trás da janela
De um fantasma que vaguei pela casa fria...
Uma vela que tremula a sua chama sombria
A única cor que esmaece a própria aquarela.
Vejo-me:
Uma névoa que se dissipa bem lentamente
Ao raiar do deus Sol que o novo dia aquece
A penumbra que desmaia no céu suavemente
Para acolher a Lua que sorridente aparece.
Vejo-me:
Uma criatura que sonda o seu próprio vulto
Uma infeliz sonhadora que a sorte ignora...
A alma que vela a morte fazendo o seu culto
E sobrevive os seus dias desejando ir embora.
Vejo-me
O vácuo do tempo que permeia a descrença
O murmúrio do silêncio que o epitáfio encerra
O estrondoso vazio da mais triste sentença
Uma estranha vivente habitando esta terra.
Vejo-me
Uma efêmera gota de orvalho na brisa matinal
O frio da noite que beija e açoita na escuridão
Um vagante espírito penando o desterro infernal
Uma agonizante esperança em busca de perdão.
Adriribeiro/@adri.poesias