PARECE MENTIRA (Um humilde tributo ao meu pai)
Sinto-me revoltada, infeliz, confusa,
um turbilhão por dentro
e não consigo encontrar a ponta
para desenrolar esta enorme confusão.
O meu pai partiu para a Terra do Nunca,
é um facto real, consumado,
mas que me parece mentira.
Custa-me tanto acreditar que isto é verdade.
Olho para o sofá onde ele se sentava,
era o seu lugar
e agora vai ficar vazio dele.
É tão difícil pensar
que ele nunca mais se vai sentar ali.
Olho a cadeira onde ele se sentava no jardim
e é tão estranho saber
que nunca mais o vou ver ali.
Parece que estou a ver o Kiko e a Mia,
empoleirados nos joelhos dele,
felizes a abanar o rabo
enquanto ele lhes passava a mão pelo pêlo
e nunca mais vou ver o que era tão comum.
Nunca mais vamos á quinta
dar de comer aos gatos.
Nunca mais
nos sentamos no jardim a conversar.
Estas são imagens penosas
que ficarão na minha memória
até ao meu último momento de lucidez.
É tão angustiante, eu fazer-me acreditar
que nunca mais voltarei a ver o meu pai.
É horrível não conseguir exprimir
por palavras ou gestos
a sensação que este pensamento me provoca.
É desolador não lhe ter dado
os beijos e abraços que tive vontade
porque esta pandemia
me fazia vacilar e me impedia.
Agora é que nunca mais
vou poder fazer nada que o envolva.
Apenas a morte nos permite usar
a palavra nunca.
Na minha cabeça há um martelo
que não pára de martelar
não me deixando esquecer
que o meu pior erro
foi levar o meu pai para o lar.
A intenção era dar-lhe uma vida melhor
mas de boas intenções o inferno está cheio
assim diz a voz sábia do Povo.
A morte é realmente o fim.
Fim é fim, nada mais existe para além do fim
nesta realidade terrena.
Descansa em paz meu querido pai
nessa paragem sagrada e serena,
o lugar da luz divina e da paz de Deus.
©Maria Dulce Leitao Reis
Direitos de autor 22/12/2020