ATÉ UM DIA PAI, NA ETERNIDADE(poema fúnebre)

Deus deixou-te ficar por 93 anos

e mais alguns dias.

Uma vida de trabalho,

dores, alegrias, derrotas e conquistas,

uma vida cheia.

A tua estrada chegou ao fim.

O último troço foi doloroso.

Tanto que tu dizias pai

que não tinhas medo de morrer

mas sim de sofrer

e sofreste bastante.

Também sofri

por assistir ao teu sofrimento

e me sentir impotente

para minorar as tuas dores.

As minhas dores não importam,

eu ajeito-me com elas.

Perdoa-me pai

se não fiz mais do que fiz.

Perdoa-me pai

por não fazer tanto como queria.

Perdoa-me pai

as minhas fragilidades.

Perdoa-me pai

por teres partido

sem poder despedir-me de ti,

sem poder apertar a tua mão

e depositar um beijo na tua testa.

Nunca é demais falar de amor.

Eu queria ter-te dito que te amo,

tu sabes pai que eu te amo,

mas digo-te agora,

eu sei que me ouves,

que estás aqui no meio de nós,

apenas te tornaste invisível aos nossos olhos

eu amo-te pai,

jamais me vou esquecer de ti.

Já na reta final,

nos teus delírios, pedias-me ajuda

para que gritassemos bem alto

a fim de atraír mais gente,

para fazermos um mundo novo,

equitativo e altruísta,

não foi no teu tempo,

não será no meu,

mas eu acredito

que as gerações vindouras

cuidarão dessa tarefa.

Agora pai, já gozas

do merecido descanso do guerreiro,

no lugar da luz e da paz.

Meu querido paizinho

És mais uma estrelinha no céu

a guiar o meu caminho.

Descansa em paz meu amado pai.

Até um dia, na eternidade.

© Maria Dulce Leitao Reis

20/12/2020

Maria Dulce Leitão Reis
Enviado por Maria Dulce Leitão Reis em 10/01/2021
Código do texto: T7156786
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