A desolação da lua no céu claro e limpo

Abre-te, olho negro do mistério,

Da indiferença, do desconhecido,

Da dor que devasta vales, montanhas, sonhos, vida...

Abre-te para ver o espaço

Repleto de vida e nada:

De vida de abraços acolhedores das quimeras satisfeitas;

Do nada que preenche minhas eras,

Meus dias, meus minutos de gélida solidão.

Abre-te, portal da mágica dimensão!

Abre-te para nada mostrar à gente estulta

E aos espíritos errantes que te imaginam.

Exibe teu breu que se projeta na claridade harmoniosa de teu entorno;

Brilha tua escuridão que espreito à distância,

Sondando o paradeiro de tua alma que partiu...

Existe, torturador cruel e invencível,

Para castigar eternamente o coração que ousar bater

E respiração que ousar expelir-se,

Com um suspiro que abala o universo,

Com a espera infrutífera por um gesto de consolo,

Com uma morte tão pesada e desprezada quanto a poeira de uma existência

Dissipada sem piedade pelas ruas

Qual cão à procura do dono que nunca teve...

Não saibas jamais das lágrimas que alimentam rios de desesperança,

Das lágrimas que caem como chuva

Dos olhos que te vigiam,

Cuja visão se turva na névoa

Que guarda o que guardas

Em perfeita simbiose com um céu de estrelas

Que embeleza um outro mundo,

Que é tão proibido quanto sonhar banhar-se com tua sedutora luz feminil.

Toma meu ser ignorado,

Minha voz emudecida,

Minha melancolia densa como mercúrio,

E faz de mim uma morte diária

Por tempos infindáveis.

Sepulta para sempre e todos os dias

A vida que não viveu

E nasce sem parar

Sob uma lápide sem nome e sem epitáfio,

Com o pôr do sol como solitário velador

Da imortal solidão.

Lester Cooper
Enviado por Lester Cooper em 04/08/2020
Reeditado em 05/03/2021
Código do texto: T7026409
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