cidade vazia como eu

Olho para eles através de um vidro fino,

Sinto que não pertenço mais a esse lugar,

Não é como se não me quisessem mais,

É como se eu fosse voltar a falhar com eles;

Estive vagando sozinho para me encontrar,

Alguns sorrisos bonitos e banhos ao luar,

Digo que nunca é tarde para voltar e abraçar,

Mas e se eu estragar mais essa chance que dão?

Não quero queimar isso como um balão alto,

Não quero gastar moedas com ligações inúteis,

Daquelas me cobrando, talvez as gentis,

Que demonstram que fiz falta na cidade;

"que o destino sempre me quis só",

E por mais que eu tire um tempo para cuidar de mim,

Pioro mentalmente de várias saudades,

De um tempo e gente que parecem não mais me pertencerem;

Parece que estou andando em círculos,

Já me esqueci das prioridades que sempre tive,

Lembro como começar mas não como manter,

Justo com a cidade vazia como eu agora;

Estou aqui, diante de sua porta, ouvindo seus passos,

Eu quero entrar mas e se eu for embora de novo?

Vou nos magoar mais uma vez, já basta as cometidas,

Mas não quero desbotar em teu passado;

¹Trecho da canção Inverno de Adriana Calcanhotto do álbum A Fábrica do Poema (1994)

(Data: 07 de Julho de 2020)

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