Navio negreiro

Sonho

escuridão

ar úmido, viciado

de medo temperado

de incerteza permeado.

Balouça o chão,

tempo indefinido

desconfortável

forçadamente imóvel

de dor sonorizado

de lágrimas banhado.

em plano cruel

desenhado

nesse destino

jogado.

Finda a escuridão

pés trópegos

tateiam

o belo chão

de tamanho exagerado

a dor se faz

anfitriã e mãe...

a fome companheira

desde sempre

Erva daninha brotada

em inóspito berço

de dentro brota

a inconformidade

da dor

desde sempre

imputada

O choro

ensina

a dor silencia

a alma

sofrida

em armadura

cristaliza

Da dor

sofrida

da fome

sobrevida

nasce o irmão

no sangue

união

Negra brota

faminta

boca

na dor urdida

vida?

em tal destino

nascida

Desde sempre

a dor e a fome

adormecida

grita

nunca esquecida

Alma

de chumbo

vestida

na luta

nascida

da lágrima

chorada

a estrada

Onde ir?

da dor fugir

da terra

com a mão

a fome

extinguir

Seguir

doura a semente

plantada

com as mãos

libertada

a fome

debelada

Sem lágrima

temperada

sentimento novo

desconhecido

alegre ruído

no peito

sentido

sem dor

sem clamor

Janela

aberta

distância olhar

respirar

todo

ar

Semear

aprender

lutar

vida ensinar

na chuva

se banhar

pés soltos

caminhar

de alegre

pular

a mãe reencontrar

O colo

o solo

abraço

aconchegar

ao longe

sorrateiro

o perigo

a observar

Tramas

artimanhas

traição

de volta

a dor

o clamor

aprisionado

amor

Roubado

o colo

o solo

o alimento

a cor

a unidade

em pedaços

A leveza

a alegria

calada

a dor

sufocada

Já não irmão

sangra a união

sádica relação

o peito

em lágrimas

transborda

O azul do céu

insulta

debocha

afronta

a fome

indigna

a dor

revolta

a corrente

arrebenta

O fogo limpa

lumia

A dor compartilha

a lágrima lava

viceja a esperança

que é a mais bela

criança

que teima

o coração

habitar

Não mais a dor

da fome

o ceifador

da união

a liga

no navio

o amor

o timão

multicor é a liberdade

do povo

a si

abençoou!